quarta-feira, 19 de setembro de 2007



Ás vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder e falar sem nada dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, a dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar. Ás vezes, é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo para falar e então alinhar as ideias, usar a cabeça e esquecer o coração, dizer tudo o que se tem a dizer, não ter medo de dizer não, não esquecer nenhuma ideia, nenhum pormenor, deixar tudo bem claro em cima da mesa para que não restem dúvidas e não duvidar nunca daquilo que estamos a fazer (...)Ás vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar.(...) Ás vezes é preciso mudar, o que parece não ter solução, deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero, bater com a porta, apanhar o ultimo comboio no derradeiro momento e sem olhar para trás, abrir a janela e jogar tudo borda fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz, o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memoria sem medo de perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta, e deitar a chave fora, ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre...
Ás vezes é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não pedir, não aceitar nem participar, sair pela porta da frente, sem a fechar, pedir silencio paz e sossego sem dor sem tristeza e sem medo.
E partir para outro lugar, mesmo o que quando mais queremos é ficar, permanecer , Construir investir e Amar."




Margarida Rebelo Pinto in " Crónicas da Margarida"

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