domingo, 30 de setembro de 2007

"'Cause nothin' lasts forever
And we both know hearts can change
And it's hard to hold a candle
In the cold November rain ..."


November Rain- Gun's N' Roses



"Quando é que uma ausência passa a prova de abandono?"



Autor Desconhecido


"Recomeça...
se puderes,
sem angústia e sem pressa
e os passos que deres,
nesse caminho duro do futuro,
dá-os em liberdade,
enquanto não alcances não descanses,
de nenhum fruto queiras só metade."



Miguel Torga

sexta-feira, 28 de setembro de 2007



“Seres humanos nunca pensam por si mesmos, acham muito desconfortável. Na maior parte, os membros de nossa espécie simplesmente repetem o que lhes é dito - e ficam aborrecidos quando expostos à qualquer ponto de vista diferente. O traço característico humano não é o conhecimento mas a conformidade, e a característica resultante é a guerra religiosa. Outros animais lutam por território ou comida; mas, singularmente no reino animal, os seres humanos lutam por suas ‘crenças.’ A razão é que as crenças guiam o comportamento, que tem uma importância evolucionária entre os humanos. Mas numa época onde o nosso comportamento pode nos levar à extinção, não vejo razão para assumir que temos qualquer conhecimento. Somos conformistas teimosos e auto-destrutivos. Qualquer outro ponto de vista da nossa espécie é apenas uma ilusão auto-congratulatória.”



Michael Crichton em “O Mundo Perdido”

quarta-feira, 26 de setembro de 2007




Não deviam voltar os acontecimentos que já aconteceram, mas voltam: com um formato especial, reduzido, próprio para circular na cabeça.



Aníbal Machado in 'A arte de viver e outras artes'

CIÚMES, PAIXÃO, ÓDIO, SEDUÇÃO, SENSIBILIDADE (ESTUDO PSICOLÓGICO DO AMOR E OS SENTIMENTOS QUE O ACOMPANHAM) *



"Realmente nada começa tão doce e afável terminando em amargura e desespero como o problema do amor. Podemos o encarar como um drama também, justamente pelo mesmo trazer outros tipos de emoções ou vivências às quais boa parte das pessoas não tem o preparo adequado. Se refletirmos bastante iremos notar que tal área já é muito mais difícil de se obter êxito do que um emprego ou boa ocupação. Todos também já perceberam que quanto maior a independência econômica em qualquer dos sexos maior o distanciamento emocional, não apenas pelo trabalho e sucção que a ambição produz, mas pela fuga e medo da frustração por gostar ou se entregar para alguém, embora tal fenômeno não seja privilégio de uma classe social propriamente dita. O trauma nessa área começa tão cedo como os valores econômicos inculcados precocemente na criança. Escrevi em diversos outros estudos que a grande problemática do final do século vinte e começo deste é a solidão sem nenhuma sombra de dúvida. Fator da máxima contradição humana; tendo a função de afastamento de uma decepção, ao mesmo tempo em que gera uma carência abissal nas necessidades afetivas do sujeito. Infelizmente nenhum método de educação ensina alguém sobre a dificuldade num relacionamento.

A paixão e sedução contidas na questão do amor encerram quase sempre elementos de poder, disputa e controle sobre o parceiro. O sentir-se “embriagado” pela paixão diz muito mais da necessidade de fuga das pessoas para a grande infelicidade vivida no dia a dia, assim sendo, tal fenômeno age como uma espécie de droga ou narcotizante da falta de sentido em relação a outro drama moderno, a rotina. A sedução atua quase sempre no predomínio estético ou sexual sobre determinada pessoa. É o uso intencional de um instrumento condicionado e valorizado pela sociedade, objetivando a adulação das características narcisistas do sujeito. Em tese também podemos definir que tanto a paixão quanto a sedução são uma espécie de rebelião ou protesto inconsciente contra a inevitável morte ou insatisfação no relacionamento. Tentam passar um ápice de uma durabilidade do gozo ou êxtase absolutamente questionável.
A sedução é a mais tenra ilusão de que o outro detém a chave perfeita para a satisfação completa de nossos desejos, e sempre nos esquecemos que preço o mesmo irá cobrar por tal tarefa; já a paixão é o sonho máximo de que seremos correspondidos constantemente, de que jamais poderá haver uma desaceleração da vontade e prazer.

A sensibilidade abre outro terreno árduo para sua compreensão plena. Freqüentemente é cobrada por um ou ambos os parceiros, embora mais tarde se queixem de seus efeitos colaterais. Outro grande erro é achar que a mesma só se manifestaria no pólo positivo, quando a grande verdade é que funciona como uma esponja que absorve todo tipo de amargura ou mazela emocional. Não basta apenas perceber o problema da contradição, dialética ou a oposição nos diferentes tipos de vivências e sentimentos, mas, sobretudo, enxergar como foram construídos no decorrer de nossa história de vida. O amor existe e sem nenhuma dúvida é uma necessidade vital, o grande problema é sincronizar sua dose, pois ambos os pólos descompensados podem ser fatais; tanto a falta que gera a mais pura carência, ou o que alguns acham que seja seu superlativo, o ciúme, também totalmente destrutivo em quase todas as relações. O importante não é e nunca foi à definição do que seja o amor, mas apenas a raridade do fenômeno nas diferentes culturas e épocas. O romantismo, a poesia e outros adornos apenas deram pistas ou serviram de muletas na construção de tão complexo sentimento humano. A tese central deste texto é exatamente a ligação do desejo ou necessidade com outras tarefas que são colocadas concomitantemente para a pessoa; mas como somos na maioria das vezes extremamente alienados, achamos que resolveremos um problema de cada vez.

O que precisa ser pesquisado é justamente como e quando alguém consegue obter a experiência do amor. Alguns advogam que o mesmo aparece após a vivência dolorosa de experiências desagradáveis, se mantendo intacta a esperança e fé do sujeito no seu potencial afetivo, diria que é algo bem raro em nossa atualidade, dominada por um rancor borbulhante em relação ao passado de frustração e mágoa. Estes dois últimos sentimentos produzem uma impermeabilização completa em relação a qualquer nova tentativa de entrega. Nossa era está repleta dessa absurda neurose, sendo que se procura a mais absoluta perfeição ou garantia para após começar a suposta troca. Tal prática nefasta revela não apenas o medo exposto anteriormente de uma nova frustração, mas que a pessoa que se deixou abalar não tem condição alguma para a experiência do amor, justamente por essa fragilidade e incapacidade de lidar com a perda. É uma criança completa no plano emocional, tentando forçar uma adequação às suas expectativas estéticas ou econômicas. Obviamente tal indivíduo não almeja em hipótese alguma a contemplação do amor, mas exclusivamente a veneração de seu conteúdo ambicioso e egoísta, com a desculpa de que é alguém especial e que precisa valorizar a si próprio, quando na verdade está o tempo todo participando de uma espécie de leilão de suas emoções.

Na verdade todas as barreiras citadas que impedem a verdadeira troca dizem de um ser que não deseja expor sua fragilidade, justamente por se considerar inferiorizado no plano emocional, e concomitante medo de ficar envolvido, pois para tal tipo de pessoa tal fenômeno é uma derrota, pois vê todo o relacionamento sobre a ótica do poder ou quem domina em tal esfera; então para fugir do conflito busca exigências irreais. Boa parte da procura da estética se encerra neste quadro, se escondendo uma grande deficiência afetiva embaixo de uma perfeição corporal sancionada pelo sistema de consumo.

Alguns filósofos e psicólogos tentaram definir o amor como uma experiência em que há maior empenho na satisfação do outro do que com suas próprias necessidades. Embora tal conceito seja louvável do ponto de vista humanista, diria que além desta capacidade inata para perceber o outro, muito mais importante é ter a certeza do potencial afetivo da pessoa que se ama, tendo a confiança de que a mesma reagirá com gratidão quando devotarmos para ela os mais nobres investimentos de nossa alma; ao contrário da inveja e incômodo que muitas pessoas demonstram ao serem ajudadas ou amparadas; enfim o desafio de todos é aferir se o outro também é capaz não apenas de trocar, mas se valoriza aquilo que o parceiro julga ser suas qualidades mais profundas. A baixa estima é um câncer para o processo afetivo. Nenhuma chama permanece acessa sem o incremento de determinado combustível. A derrocada amorosa se dá quando um dos dois apenas almeja retirar sem repor, ou o outro também não faz a mínima questão de crescer ou vivenciar algo novo. O problema de alguém se tornar insensível não diz apenas de uma fuga perante o medo do sofrimento, pois todos querendo ou não passarão por tal infortúnio; o que ninguém admite é vivenciar algo único, sendo assim a chamada opção por não ser sensível (do ponto de vista positivo como expliquei acima), é se afastar da sensação de solidão que um sentimento intenso produz. Quase ninguém almeja ser pioneiro no terreno emocional, a liderança e poder se focam no plano material. A prova maior disso tudo é que sempre um dos parceiros se queixa de que o outro doa muito menos na relação, como se estivesse se preparando para uma retirada ou abandono.

Outro fenômeno moderno no terreno afetivo é a questão do tédio precoce nos relacionamentos. Este fator está associado diretamente ao transporte do consumismo social para a esfera privada do indivíduo. É um tanto óbvio tal ocorrido. Como conseguiremos algo um pouco duradouro se nossa mente é corrompida diariamente pelo descartável produzido pelo desejo de consumo? Boa parte do fracasso nos relacionamentos é produzida pela falta de inteligência e percepção deste acontecimento diário. Que as pessoas gostam de nadar na ilusão até nem discuto, mas se cegar perante uma contaminação incisiva é no mínimo trabalhar para sua infelicidade própria. Em parte a própria psicologia explica o fascínio da pessoa pela dor e queixa constante, forçando o ambiente a consolar tal indivíduo tão desprotegido.

Pensemos na questão do ciúme. O mesmo foi eternizado como uma insegurança ou fraqueza emocional do sujeito. Isto é uma análise superficial, pois em verdade o ciúme é o mais profundo sinal ou indício de uma futura ruptura ou perda. A pessoa presa de tal sentimento não visualiza que seu excesso nada mais é do que uma antevisão da ruína de seu projeto afetivo. O ciumento amplifica suas emoções negativas e traz também as do parceiro para seu caldeirão íntimo de sofrimento. Outra essência do ciúme é o mais puro complexo de inferioridade, pois a pessoa já intuiu que será derrotada neste campo, ou que poderá haver repetição de vivências dolorosas que já experimentou. Tal processo pode acompanhar o sujeito à vida toda, caso o mesmo não procure ajuda psicológica para desfazer tal trava emocional. E sobre a carência, como se desenvolve?A pessoa que cresceu sob a ótica de tal condição acaba desenvolvendo um mecanismo curioso de compensação. Ao mesmo tempo em que se sente negligenciada em seu direito afetivo histórico, têm a convicção interna de que algo muito especial ainda estaria por vir; o problema é dimensionar o tempo que irá suportar tal espera, sendo que o tédio ou desânimo não tardarão a assolar tal indivíduo. A carência é a exploração máxima da paciência e expectativa perante um retorno afetivo do outro, que pode nunca ser efetivado. É a interrupção plena da liberdade para escolher novas pessoas que possam satisfazer a necessidade de amor do indivíduo, sendo que o mesmo irá insistir na sua dor pessoal de rejeição e conseqüente reparação.

O sofrimento afetivo mais cedo ou tarde cobrará uma definição. Ou irá ocorrer uma busca desenfreada por algum tipo de reparação como foi dito, ou a energia será direcionada a algo novo. O apego é o pilar máximo da sustentação do processo da carência. É fato que boa parte do esforço infrutífero gasto por determinada pessoa diz de algo que jamais poderá ser reativado, ou mesmo que o fosse talvez não teria a mínima importância. Há duas formas de se lidar com a perda e todos já as notaram: nos tornarmos mais fortes e reagirmos com toda a tristeza oriunda do evento traumático, gerando um dever de melhorar em conflito com a dor; a segunda é a depressão propriamente dita, sendo a recusa da reação por não enxergar um sentido além do apego ao evento mórbido.


(...)



É justamente neste ponto que entra o problema do amor, pois o mesmo deve ser algo totalmente novo e original com outro ser humano, no qual se confiará a experiência do desejo e prazer; caso não ocorra tal situação a relação se torna mera arena para se reviver todo o drama familiar passado e o mais legítimo complexo de inferioridade. A experiência real e profunda do amor implica em não se sentir tão afetado, humilhado ou destruído pelo passado.

Quando realmente podemos dizer que conhecemos nosso parceiro amoroso? Com toda a certeza quando conseguimos visualizar todo o seu potencial construtivo e destrutivo. Este último é freqüentemente confundido com a agressividade. Claro que não estamos falando aqui da violência física, mas tentando desmistificar o problema do que realmente seja a agressão. Uma das coisas mais cruéis nas relações é justamente a sedução perante uma pessoa e conseqüente retirada do relacionamento. Isto infelizmente já virou uma espécie de jogo sádico moderno. Ao invés de nos iludirmos constantemente com a beleza ou fascínio sexual por alguém, seria interessante avaliarmos a capacidade dessa pessoa para a reciprocidade. O mais perfeito retrato da sala de espera do inferno se dá quando um dos parceiros sente que o outro é o mais puro e ideal objeto de amor para o mesmo, porém, não ocorre à mínima seqüência ou correspondência. A análise do problema do amor não correspondido passa por vários tópicos, mas o principal é a escolha de uma espécie de ícone incapacitado para a troca. A busca pela beleza ou sensualidade que pode acarretar a não correspondência diz muito mais de uma pessoa imbuída de um profundo complexo de inferioridade, que busca na outra uma compensação de sua problemática, tornando-a um troféu que possa encobrir seu drama pessoal não resolvido. É a princípio um acordo mútuo entre duas pessoas extremamente ambiciosas, uma por ser venerada por seus dotes físicos, e a outra para provar aos outros sua glória por ter conseguido algo tão valioso apesar de sua limitação na autoestima; não precisamos lembrar que tal contrato possui uma curta duração.

(...)



Confesso que a coisa mais estranha ou sombria que ouvi na vida foi determinado relato de uma pessoa que disse ter encontrado o parceiro ideal, mas estava morrendo de medo do amor propriamente dito. É chocante tal relato justamente pelo sujeito intencionalmente abrir mão de uma experiência de quase puro êxtase. A primeira explicação já foi dada acima; a pessoa encara o amor como uma submissão ou inferioridade, buscando um parceiro que se doe muito mais do que ela. Mas como se manifesta o medo do amor nos homens e mulheres? Nos primeiros historicamente pelo desleixo, indolência e a infidelidade conjugal, dando uma mensagem explícita de que jamais criará raízes profundas em qualquer tipo de relação. Este problema está associado também à questão da timidez, pois tal distúrbio tem a característica de afastamento de todo tipo de envolvimento emocional profundo. O tímido apenas ensaia gostar e amar, sendo que sua meta principal é cavar apenas uma trincheira de isolamento e proteção perante o contato social. Seu medo central é passar por uma situação de prova, e o amor é o teste supremo da intimidade de um ser humano, assim sendo, irá renegar todo tipo de entrega, embora tal problema pertença a ambos os sexos.

Na mulher o medo do amor principalmente em nossa atualidade se dá pela agressividade ou qualquer tipo de cobrança irreal perante o parceiro. A própria condição hormonal da mulher é a mais pura prova disso. A tensão pré-menstrual exacerbada diz psicologicamente de uma mulher que reprimiu ou não sabe lidar com seu potencial agressivo, e a alteração hormonal é a válvula de escape para todos os seus instintos negados, tomando por completo a pessoa. É como um estado de embriaguez em que se expõe toda sua agressividade; esta no lado masculino visa à competição, embora as mulheres também adotem tal conduta. Mas para as mesmas a agressividade é o bloqueio central que interrompe a entrega. A análise psicológica profunda de tal conduta irá revelar que tal pessoa está revivendo longínquas experiências paternas com seu atual parceiro, onde o núcleo é definir emocionalmente a figura masculina como sendo raivosa, embora isto também não deixe de ser uma projeção de seu emocional. A catástrofe afetiva é a intersecção mórbida entre pai e amante, não um complexo de Édipo como a psicanálise enxerga, mas a convicção feminina de que o parceiro sempre a usou para desafogar seus mais sádicos instintos. A seguir começa a surgir o ódio e desejo de retaliação. Na verdade a culpa do homem por tal situação é encarar a afetividade como uma espécie de esquema bancário, achando que sua companheira tem o dever inato de suprir todas as suas necessidades pessoais, com o mínimo de troca possível, esta sim é a essência do chamado machismo, não desejar enxergar, ajudar ou colaborar com sua parceira. Para a mulher, restou o pânico atávico de se sentir usada o tempo todo.


(...)



Nos adultos o projeto eficiente de alfabetização emocional é desenvolver formas maduras de lidar com todos os tipos de sentimentos negados ou negativos: ódio, raiva, rancor, inveja, mágoa, tristeza, vingança, frustração, apego, saudade mórbida, dentre outros. Há também a necessidade de se perceber o custo na esfera afetiva no decorrer da vida, seja o preço a ser pago pela solidão, ou a carga que recebe da pessoa desejada, assim como o impacto de sua conduta emocional perante as pessoas mais próximas. A experiência do amor seria muito mais fácil para alguém que já a tenha saboreado plenamente no âmbito familiar. Embora tal conceito possa parecer um tanto antiquado, ainda é totalmente válido na dinâmica dos relacionamentos. Quando não se teve uma experiência de tão ampla magnitude e importância, a tendência é buscar fora do ambiente privado e familiar tal necessidade básica, com todo o atraso possível; o problema é que quando alguém procura algo imbuído de carência e privação afetiva, despertará ao mesmo tempo todo o sentimento negativo descrito anteriormente, pois o amor obedece também a condutas em conformidade com o desenvolvimento e crescimento da pessoa, muitos não percebem que clamam pelo mesmo de uma maneira totalmente inadequada ou infantilizada. A cura não passa apenas pelo encontro, até porque ninguém jamais terá certeza do amor em nossa era perante o parceiro, mas principalmente por se revelar e exigir que o outro tome atitude semelhante; desnudando seu ser.

Outro ponto indiscutível é que tendo ou não um relacionamento, quase todos estão tristes, descontentes ou insatisfeitos. Todos os elementos descritos neste texto dizem do correlato do amor, que é o ódio. Sentimento totalmente negado pela cultura e moralidade, mas que assola totalmente os relacionamentos. O primeiro passo para o incremento do ódio é não ter a consciência de que as pessoas mais íntimas é que colaboram para o crescimento de dito sentimento. O início sempre é algum tipo de contrariedade ou injustiça, passando para uma experiência de ligação diária e constante em relação ao objeto ou pessoa que causou a dor tão insuportável. Mas o ódio maior é quando se tem a certeza subjetiva de que o outro poderia completar totalmente a pessoa, mas se recusou em seu esforço ou competência para tal finalidade, conforme apontei acima. O ódio começa a surgir quando percebemos nossa miserabilidade afetiva, e o quanto está se mendigando afeto e atenção. O ódio é uma espécie de ritual ou neurose obsessiva, algo como um totem para que a própria pessoa o cultivando constantemente se lembre da experiência da dor e tente não repeti-la. O problema é que tal processo se torna quase que infinito;
(...)"



*Obs: Estudo efectuado pelo
PSICÓLOGO ANTONIO CARLOS ALVES DE ARAÚJO,que teve a amabilidade de o ceder. Encontrarão o texto completo aqui: http://antonioaraujo_1.tripod.com/psico1/portugues/ciumeamor/ciumeamor.html ,
aproveitando desde já para vos aconselhar a página principal do referido autor,onde encontrarão temas identicamente interessantes,aqui : http://antonioaraujo_1.tripod.com/

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

domingo, 23 de setembro de 2007



O verme pisado encolhe-se. Atitude inteligente. Com isso reduz a probabilidade de ser pisado de novo. Na linguagem da moral: humildade.




Friedrich Nietzsche, "Crepúsculo dos ídolos, ou como se filosofa às marteladas"

(Quase) feitos um para o outro


A relação homem e mulher parece estar descartável. Vivemos numa época de soluções mágicas e preocupação com lucros em detrimento da qualidade da relação. Procura-se mais, mas falta consistência. Assim como queixas de nostalgia e desânimo, a procura do amor é uma constante. Nessa missão, cada vez mais difícil e recheada de surpresas e medos, muitos se perdem e poucos se acham. O entendimento total, simbiótico, "hollywoodiano" é irreal de acordo com a natureza humana. Esse não é o objectivo primeiro mas no meio de tantas pressões e cobranças por um relacionamento perfeito, a idealização surge como uma barreira entre o casal. Não significa pregar o individualismo mas conjugar verbos diferentes daqueles dos conhecidos dentro de uma relação entre os sexos. Deve-se pensar em companheirismo e cumplicidade. Duas pessoas inteiras e não mais metades em busca de algum complemento. Espera-se que o outro complete a falta sem que cada um aprenda a se complementar. As relações estão baseadas em detrimento pessoal, numa individualidade a dois. Esse individualismo exacerbado conta sobre a nossa sociedade competitiva onde ficou difícil sair do centro de si e pensar a dois sem nada em troca. Está mais difícil pensar o amor na forma original. É perfeitamente acessível que a correria imposta e a busca por respostas imediatas interfiram na relação. O ritmo forçado de vida mantém altos padrões na sociedade que dita regras cada vez mais difíceis de serem cumpridas, numa visão muitas vezes preconceituosa de cada um. É bem mais fácil atribuir a "culpa" ao outro do que ter que olhar para si. Pensar no funcionamento da relação demanda dedicação e tempo, o bem mais valioso hoje. E não fomos, nesse mundo robotizado, acostumados a isso. Faz-se necessário definir prioridades. É preciso reservar um espaço para a relação, mesmo que isso seja cada vez mais utópico à medida em que o tempo se encurta. Somente através do conhecimento de si pode-se chegar a uma melhor compreensão da vida, da relação. Evoluir como pessoa está sujeito directamente a assumir os problemas e as expectativas do mundo, do outro e de si, que são colocadas dentro da relação vivida. O amor virou uma moeda de troca e ainda assim a sua busca é uma constante já que estamos sempre buscando felicidade e alegria. Somos seres sociáveis e, numa das várias hipóteses, biologicamente programados para "procriar". Não se pode fugir das pressões e destino biológico. Mas busca-se muito "no lado de fora" e pouco em si próprio. Procura se um parceiro perfeito. Porque não tornar-se perfeito? Fazemos partes e somos a cultura. Por isso é difícil mudar. Absorvemos os valores do nosso tempo e executamo-los de forma sem pensar. Mas se fosse assim não haveria historia, revoluções ou mudanças. Já não é possível voltar atrás. É preciso força e coragem pra buscar um amor resistente as enchentes torrenciais. Essa é a saída. O amor foi inventado e foi nos oferecido para que a vida fique mais fácil de ser vivida. Na vida vai se tentando acertar através do ensaio e do erro. Muitas vezes o inexplicável une as pessoas. Sem roteiros cada um segue uma receita própria de felicidade, companheirismo, união, intimidade e respeito. Assim, buscamos ser um pouco mais inteiros. Homens e mulheres devem se dar conta das suas diferenças e necessidade de completude através dela. Devemos nos sentir melhores, caminhando juntos pela mesma estrada, com subidas, descidas e algumas curvas. Uma estrada longa e sinuosa onde com as mãos dadas, a alma limpa, a procura de entendimento mútuo e o convívio da cumplicidade se chegue ao final dela e só ai, descobre-se, que o começo está apenas por vir. De tudo o que fica, resta dizer que é fácil expor como o amor precisaria ser. O difícil é viver. E nós somos os protagonistas e expectadores de nossa própria estória. O roteiro a ser seguido é escrito por uma, duas ou quatro mãos. Mas quem o escreve, conta de si, conta para o outro, conta para o mundo o que pode se esperar desse enredo.



Ana Paula Veiga

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

SOULMATE...

A fronteira entre a amizade e o amor.



Há na pura amizade um prazer a que não podem atingir os que nasceram medíocres.
A amizade pode subsistir entre pessoas do mesmo sexo a diferentes, isenta mesmo de toda a materialidade.
Uma mulher, entretanto, olha sempre um homem como um homem; e reciprocamente, um homem olha uma mulher como uma mulher; essa ligação não é paixão nem pura amizade: constitui uma classe aparte.
O amor nasce bruscamente, sem outra reflexão, por temperamento, ou por fraqueza: um detalhe de beleza nos fixa, nos determina.
A amizade, pelo contrário, forma-se pouco a pouco, com o tempo, pela prática, por um longo convívio.Quanta inteligência, bondade, dedicação, serviços e obséquios, nos amigos, para fazer, em anos, muito menos do que faz, às vezes, num minuto, um rosto bonito e uma bela mão!
O tempo, que fortalece as amizades, enfraquece o amor.
Enquanto o amor dura, subsiste por si, e às vezes pelo que parece dever extingui-lo: caprichos, rigores, ausência, ciúme; a amizade, pelo contrário, precisa de alento: morre por falta de cuidados, de confiança, de atenção.
É mais comum ver um amor extremo que uma amizade perfeita.O amor e a amizade excluem-se um ao outro.
Aquele que teve a experiência de um grande amor descuida a amizade; e quem se esgotou na amizade ainda não fez nada para o amor.
O amor começa pelo amor, e só se passaria da mais forte amizade para um amor fraco. Nada se parece mais com uma viva amizade do que essas ligações que o interesse do nosso amor nos faz cultivar.




Jean de La Bruyére, in "Os Caracteres"


A vida humana é temporal e sucessiva. Vai passando, e é possuída de modo deficiente e imperfeito. Possuímos o passado de modo deficiente, na recordação; possuímos o futuro de maneira ainda mais precária, com constante insegurança, na imaginação, na antecipação; o presente possuímo-lo algo melhor, porém é fugaz, um momento, está incessantemente passando.


Julián Marías, in 'A Felicidade Humana',pag. 25


"A imaginação é a mãe das idéias mas raramente sabe educar suas filhas."


Mario Melloni

quinta-feira, 20 de setembro de 2007



Em definitivo
Não mais me consigo entender
Quero as coisas
Que não tenho
Realizo os sonhos
Que não procuro.....
Perco-me indefinidamente
No tempo e na ausência!
Por isso:
Desejo primeiro que Tu Ames,
E que amando também sejas amado,
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guardes magoa
Desejo pois que não seja assim
Mas se for, saibas ser sem desesperar.
Desejo também que tenhas amigos
Que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e Fieis
e que pelo menos num deles,
tu possas confiar sem duvidar
E porque a vida é assim
Desejo ainda que tenhas inimigos
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exacta, para que algumas vezes
Tu te interpeles a respeito
Das tuas próprias certezas
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo
Para que tu não te sintas demasiado... Seguro.
Depois desejo que sejas útil
Mas não insubstituível,
E que nos maus momentos
Quando não restar mais nada
Essa utilidade seja suficiente para te manteres de pé.
Desejo ainda que sejas tolerante
Não com os que erram pouco, isso é fácil
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância
Sirvas de exemplo aos outros!
Desejo que tu... sendo jovem
Não amadureças depressa demais,
E que sendo maduro, não insistas em rejuvenescer
E que sendo velho, não te dediques ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que sejas triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia
Mas que nesse dia descubras
Que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso e o riso constante insano
Desejo que descubras
Com a máxima urgência
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão a tua volta.
Desejo ainda que afagues um gato
Alimentes um cuco e ouças o galo
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque assim, vais-te sentir bem... por nada.
Desejo também que plantes uma semente
Por mais minúscula que seja
E acompanhes o seu crescimento
Para que saibas de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outro sim, que tenhas dinheiro
Porque é preciso ser pratico
E que pelo menos uma vez por ano
Pegues num pouco dele
Coloques na tua frente e digas: Isto é meu
Só para que fique bem claro, quem é o dono de quem...
Desejo também que nenhum dos teus afectos morra
Por ele e por ti
Mas que se morrer, possas chorar
Sem te lamentares, sem te culpares.
Desejo por fim, que tu sendo Homem
Tenhas uma boa Mulher
E que sendo Mulher
Tenha um bom Homem
E que se Amem, Hoje, Amanhã e nos dias seguintes
E quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda haja Amor para recomeçar.
E se tudo isto acontecer....
Não tenho mais nada para te desejar.



Victor Marie Hugo

Levas-me p'ra casa????

quarta-feira, 19 de setembro de 2007



“Estamos sós e sem desculpas. É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado porque não se criou a si próprio; e, no entanto, livre porque, uma vez lançado ao mundo, é responsável por tudo quanto fizer.”



Sartre




Se tudo o que o homem faz é para tentar ser feliz, é preciso surpreendê-lo nessa busca, descobrir o que busca quando vai ao encalço dessa felicidade, o que encontra quando a consegue; como fracassa, quando se lhe escapa das mãos ou se despedaça; o que espera quando espera ser feliz; o que lhe acontece quando perdeu a esperança da felicidade ou de possuí-la. Isto é, ter-se-ia de perguntar o que é que este homem busca, o que é que tem, ou o que perdeu.




Julián Marías,in 'A Felicidade Humana'

Como Vai Voçe?


"As únicas pessoas que aprecio são os loucos: os que são loucos para viver, loucos para falar, loucos para se salvar, desejosos de tudo ao mesmo tempo, os que nunca bocejam nem dizem lugares-comuns, mas que ardem, se inflamam e brilham como fabulosos fogos de artificio."



Jack Kerouac


A consciência é uma pequena lanterna que a solidão acende à noite.


Madame de Stäel


Ás vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder e falar sem nada dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, a dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar. Ás vezes, é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo para falar e então alinhar as ideias, usar a cabeça e esquecer o coração, dizer tudo o que se tem a dizer, não ter medo de dizer não, não esquecer nenhuma ideia, nenhum pormenor, deixar tudo bem claro em cima da mesa para que não restem dúvidas e não duvidar nunca daquilo que estamos a fazer (...)Ás vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar.(...) Ás vezes é preciso mudar, o que parece não ter solução, deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero, bater com a porta, apanhar o ultimo comboio no derradeiro momento e sem olhar para trás, abrir a janela e jogar tudo borda fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz, o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memoria sem medo de perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta, e deitar a chave fora, ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre...
Ás vezes é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não pedir, não aceitar nem participar, sair pela porta da frente, sem a fechar, pedir silencio paz e sossego sem dor sem tristeza e sem medo.
E partir para outro lugar, mesmo o que quando mais queremos é ficar, permanecer , Construir investir e Amar."




Margarida Rebelo Pinto in " Crónicas da Margarida"


Sunt lacrimae rerum et mentem mortalia tangunt.

terça-feira, 18 de setembro de 2007



Um pensamento segue o outro por quê? Porque o primeiro pensamento não basta a si mesmo, se exige outro pensamento. Exige outro para certificar-se de si mesmo. Um pensamento segue outro porque o segundo duvida do primeiro, e porque o primeiro duvida de si mesmo. Um pensamento segue o outro pelo caminho da dúvida. Sou uma corrente de pensamentos que duvidam.


Vilém Flusser,in 'A Dúvida'


O que em geral se consegue com o castigo, em homens e animais, é o acréscimo do medo, a intensificação da prudência, o controle dos desejos; assim o castigo doma o homem, mas não o torna melhor.



Nietzsche


Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu…
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.
Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.


Mário Quintana

segunda-feira, 17 de setembro de 2007



"Não existem bons ventos para quem não sabe para onde vai "



Marcus Annaeus Seneca

Saber como levar as coisas. Tudo tem dois lados. Se pegar na lâmina, a melhor irá feri-lo; a mais nociva o defenderá se a segurar pelo cabo. Muitas coisas que causaram dor teriam causado prazer se suas vantagens tivessem sido também consideradas. Sempre há prós e contras; o segredo está em saber virar as coisas a nosso favor. As coisas parecem diferentes quando vistas a uma luz diferente. Portanto, olhe para elas à luz da felicidade. Não confunda bom e mau. Eis porque alguns encontram alegria em tudo, e outros, tristeza. Trata-se de uma defesa garantida contra os reveses da sorte, e de uma óptima regra de vida, em todos os tempos e em todas as actividades.


Baltasar Gracián, A Arte da Sabedoria Mundana, pg. 99

NOT TO GIVE...



“…Por isso é tão importante deixar certas coisas irem embora.
Soltar. Desprender-se. As pessoas precisam de compreender que ninguém está a jogar com cartas marcadas, ás vezes ganhamos e ás vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam o seu esforço, que descubram o seu génio, que entendam o seu amor.
Encerre ciclos, não por orgulho por incapacidade ou por soberba, mas porque aquilo simplesmente já não se encaixa na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda o pó. Deixe de ser quem era e transforme-se em quem é.”



Paulo Coelho in " O Zahir"

domingo, 16 de setembro de 2007



(...) os grandes mitos são grandes porque representam e incorporam grandes verdades universais, mas o mito do amor romântico é uma terrível mentira. É possível que não se possa prescindir dessa mentira, pois é ela que assegura a sobrevivência da paixão que leva ao casamento. Mas, como psiquiatra, lamento - quase que diariamente - a terrível confusão e o sofrimento que este mito provoca. Milhões de pessoas desperdiçam uma imensa quantidade de energia tentando, desesperada e inutilmente, amoldar a sua vida real a esse mito irreal.



M. Scott Peck

sábado, 15 de setembro de 2007

A VOZ DO SILÊNCIO



“Pior do que uma voz que cala, é um silêncio que fala”…..
Simples! Rápido! E quanta força!
Imediatamente me veio à cabeça situações em que o silêncio me disse verdades terríveis pois, você sabe, o silêncio não é dado a amenidades…Um telefone mudo. Um e-mail que não chega. Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca. Silêncios que falam…
Quantas coisas são ditas na quietude, depois de uma discussão. O perdão não vem, nem um beijo, nem uma gargalhada para acabar com o clima de tensão. Só ele permanece imutável, o silêncio, a ante-sala do fim. É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente não quer ouvir, pois ao menos as palavras que são ditas indicam uma tentativa de entendimento.
Cordas vocais em funcionamento articulam argumentos, expõem suas queixas, jogam limpo. Já o silêncio arquitecta planos que não são compartilhados. Quando nada é dito, nada fica combinado. Quantas vezes,numa discussão histérica, ouvimos um dos dois gritar: “Diz alguma coisa,mas não fica aí parado, me olhando”! É o silêncio de um mandando más notícias para o desespero do outro.
É claro que há muitas situações em que o silêncio é bem vindo. Para um cara que trabalha com uma britadeira na rua, o silêncio é um bálsamo. Para a professora de uma creche, o silêncio é um presente. Para os seguranças de um show de rock, o silêncio é um sonho. Mesmo no amor, quando a relação é sólida e madura, o silêncio a dois não incomoda, pois é o silêncio da paz.
O único silêncio que perturba é aquele que fala. E fala alto. É quando ninguém bate à nossa porta, não há recados na secretária electrónica e mesmo assim você entende a mensagem…


'Martha Medeiros'

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

(You Want To) Make a Memory



...porque me entrou no ouvido.

Bon jovi "(You Want To)Make a Memory"

O último encontro.



Passaram a encontrar-se entre Marburgo e Berlim, numa cidade que ficava no percurso do comboio. O prazer da espera conservava o seu gosto proibido. Marcavam encontro nas estações e depois ele levava-a para quartos de hotel. O corpo a corpo ainda era vivo,mas sobrava o resto do tempo. Tão longo, tão estúpido. Martin vestia-se, ia-se embora.
Quando nos voltamos a ver?
Proximamente.
O que é o próximo?
O ser,na sua emergência.
Mas quando?,diz.
Ele não responde.
Agora não, nem tão cedo.
-Sabes bem que não sou dono do meu tempo - dizia ele.
Martin mantinha Hannah em sentinela. E ela submetia-se. A espera exacerbava o amor até á dor, como a ferida de uma criança cuja crosta ela arranca para fazer deitar sangue,por gosto. Muito sangue tinha corrido por debaixo das pontes que ligavam as estações dos comboios, e muito prazer também.
A crosta infectava só um pouco, mas sem septicemia.
Até ao dia do encontro gorado na plataforma da estação de Heidelberga.
Grangena fulminante, amputação do amor. A ferida cicatrizou, formando uma crosta espessa que Hannah deixou sossegada. Operação bem sucedida.
Hannah já não arranhava a ferida que julgava curada.
Um dia, depois da separação, Martin fora a Berlim visitar o jovem marido de Hannah. E a ferida voltou a abrir.(...)



"O Ultimo encontro", de Catherine Clément

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Sentido



Precisamos de uma crença para que as coisas façam sentido em nosso mundo, para alcançarmos o tipo de compreensão necessária para o sentido. Todas as culturas uniram os pontos de estrelas no céu em diferentes constelações, projectando ordem no acaso como uma maneira de compreendê-lo. Quando percebemos um padrão, temos o sentido. Quando temos o sentido, podemos encontrar o propósito.
Tendemos a rejeitar as coisas desagradáveis como se não tivessem lugar no padrão, mas algumas filosofias, como o Tao, sempre explicam o entrelaçamento dos opostos. Se você procura o bem, também vai se deparar com o mal. Se procura o sentido, algumas coisas inexplicáveis acontecerão com você. Provavelmente, se você não entende um acontecimento como parte do padrão, é porque ainda não viu o todo.


Lou Marinoff, 'Mais Platão, Menos Prozac'



“Não enfrente monstros sob pena de te tornares um deles. Lembra-te: se contemplas o abismo, a ti o abismo também contempla.”


Nietzsche

O filho de Pilar e Daniel foi batizado à beira-mar.
E no batizado, ensinaram a ele o que é sagrado.
Recebeu um caracol.
- Para que aprenda a amar a água.
Abriram a gaiola de um pássaro preso:
- Para que você aprenda a amar o ar.
Deram a ele uma flor de gerânio:
- Para que você aprenda a amar a terra.
E deram também uma garrafinha com tampa:
- Não abra nunca, nunca.
Para aprender a amar o mistério.



'As Palavras Andantes', Eduardo Galean

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Inesquecível!




Final do Notting Hill; "She" Elvis Costello



Há certos dias em que sinto uma enorme vontade de “matar” a vida como um ginasiano fala em “matar aulas”, vontade de ficar em casa, sozinho, absolutamente sozinho, sem dar nada de mim aos outros e sem nada receber deles. Mas, a despeito de ter essa vontade, sinto claramente que meu “Eu” são as pessoas, que só posso aspirar a uma singularidade qualquer e que minha solidão não passa de um lugar-comum.

Frédéric Schiffter.
- E gostamos de nós mesmos?
- Certamente.
- E se não gostarmos?
- Se não gostarmos de nós mesmos, monsieur, então estaremos perdidos, pois um homem que não gosta de si mesmo está repleto de dúvidas. Nós sobrevivemos e existimos porque somos verossímeis. Quando a equilibrista duvida ela cai. Quando o espadachim duvida ele morre. Devemos temer mais a dúvida do que uma arma.


Andrew Miller, in “O Insensível”

Adeus



Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mão à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras
e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.

Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
e eu acreditava.
Acreditava, porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os meus olhos
eram peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.


Adeus.




Eugénio de Andrade






terça-feira, 11 de setembro de 2007


Quando se trata de sexo, as mulheres precisam de uma razão; os homens precisam de um lugar.

Para as mulheres, o sexo é o preço a pagar para se casarem. Para os homens, o casamento é o preço a pagar para terem sexo.


( Allan Pease, psicólogo )


Traição feminina X Traiçao masculina



Traidores, traidoras, traídas e traídos, atentem-se ao texto de uma mulher madura pelas experiências, abençoada pela felicidade e desafiada a escrever um texto:(...)
Vou falar dos porquês! Por que o homem trai? Por que a mulher trai? Porque o homem não perdoa a traição(na maioria) e por que a mulher perdoa. Isso tem muito a ver com meu mundinho, aquele cor-de-rosa.
Os homens traem, não porque não amem loucamente suas esposa, namoradas e afins, mas porque têm necessidade disto. Eles não procuram outra mulher, mas uma aventura. É instinto. O homem tem sua natureza voltada para a fecundação. Desde o antigo homem das cavernas, ele procurava sua fêmea, procriava e saía pelo mundo. Prova disso é que ele pode ter mil filhos por ano.
Com a mulher é e sempre foi diferente, ela só pode ter um filho a cada nove meses. Nos primórdios, procurava seu macho, o mais forte, mais másculo, mais protector e mais bonito, pois ela precisava de alguém para procriar, e queria, obviamente, o melhor da espécie. A mulher, diferentemente, só pode ter um filho por ano. Ela não tem o mesmo número hormonal que o homem (e digo isso porque sei. Sou médica), sua taxa de testosterona, apesar de ser a mesma do homem, não se renova.
Se o homem trai é porque está tudo bem, ama sua esposa (vou me referir assim), mas precisa mudar, talvez até para que o casamento continue sendo aquela maravilha cor-de-rosa. Por isso eles negam, porque não querem perder a fêmea que escolheram. E não aceitam a traição dela, porque ela não é aventura como as outras. Foi a escolhida. Ela é a ideal. É para sempre. É a mãe de seus filhos. Não passageira como as outras. Não é uma apenas uma aventura sexual. É uma santa, idealizada e cor-de-rosa.
A mulher, se trai o marido... ALERTA! Algo não está bem (me corrijam se eu estiver errada) ou é o marido que não corresponde seus anseios ou pior ainda: está apaixonada.
Esse é o medo dos homens: Ficar para trás! Que ela o deixe! Teme perdê-la. Teme perdê-la por amor. E não venham dizer que se ama não trai porque trai. Tarai e trai! Isso é egocentrismo dele claro! Talvez a ame mais porque sabe que ela não o trairá! Se ela trair, acaba com sua auto-estima! Detona seu ego! Põe tudo a perder. Ele não perdoa não. Porque não perde (e perde mesmo) só seu amor! Perde também a santa cor-de-rosa!
O homem traído vira chacota! Vira c@%!o manso se perdoa a esposa! A mulher não, a mulher traída vira sublime! Ideal. A superior, que perdoou o idiota que a chifrou.
Em contrapartida, a mulher traidora vira v%$@a, vagabunda! Mal falada e repudiada. Vira aventura para os outros. O homem traidor vira (para os amigos), exemplo. O granado! Machão! Que para eles é o contrário de c@%!o, mais ou menos!
Assim, concluo que fechemos os olhos e nos consciencializemos que os homens sempre vão nos trair e nunca aceitarão nossas traições. Pelos motivos já expostos.
Felicidade? Não veja, não ouça e não procure motivos, assim, seu mundo será cor-de-rosa, cêntrico, ideal e lindo, como o das amantes nunca será. Porque você vai ter um filho, uma família, um marido e uma expectativa de vida, coisa que elas jamais terão, porque não são escolhidas, são instinto!
Se a mulher trai é vagabunda. Se o homem trai é instinto. É! E é porque é!

(Autora desconhecida_recebido por e-mail)




O que leva homem e mulher a traírem,geralmente é exactamente por não encontrarem dentro da relação,o que vão procurar fora.

A grande diferença reside no facto de as mulheres traírem porque procuram carinho e atenção,e os homens,sexo. Instinto masculino ou não,Carência feminina ou não,a verdade é que a sociedade ainda hoje marginaliza a mulher que trai,e enaltece o homem traidor.

Mais do que apontar o dedo,o importante é perceber o porquê.
Depois... Bem depois, o melhor é ponderar...

Conseguirá o par traído deixar a traição lá atrás? Será o amor suficiente para voltar a confiar?E se sim,valerá a pena?...




“Em cada colega do sexo oposto parece existir um cofre com um tesouro, escondido numa ilha deserta, no meio do oceano, a solicitar a tua valentia de navegação arrojada e de busca perseverante.
Quanto mais te aproximas dessa ilha verdejante, mais o coração te salta no peito. E o mais engraçado é que, sempre que pões o pé na areia das suas praias, dias depois és atraído por uma nova ilha, apesar da beleza extasiante das suas paisagens.
E esta maravilhosa aventura irá continuando até conseguires, anos mais tarde, encontrar a ilha que te satisfará os olhos e o coração, no remanso da sua paz e na serenidade e frescura da sua brisa tropical.”
(autor desconhecido)

Tonight




...porque vale a pena fechar os olhos e senti-la...
...porque a ouço hoje,ontem,e amanhã.
...porque deste lado,mais do que um monitor,cabos,fios,e bytes,está um ser que sente...que ri e que chora, que tem alma e tem pele.
...porque é vida que aqui se sente...

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

LOST IN TRANSLATION...


Bob: Can you keep a secret? I'm trying to organize a prison break. We have to first get out of this bar, then the hotel, then the city, and then the country. Are you in or you out?
Charlotte: I'm in.

domingo, 9 de setembro de 2007


"Em sua primeira paixão, uma mulher ama o seu amante, em todas as outras, tudo que ela ama é o amor."



Lord Byron


Não meças o amor pelo tempo que dura;
Ontem amei-te mais nessa hora tão ligeira,
Senti maior prazer, gozei maior ventura,
Do que se ao pé de ti passasse a vida inteira.

Deixa que esta paixão termine com o dia,
Efémera recém-nascida à madrugada,
E que ao cair do sol, nessa hora de poesia,
Deixou pender no chão a fonte desfolhada.

Fiquemos sempre assim, um ao outro ignorados
Nestas vagas regiões duma paixão nascente.
Sigamos cada um caminhos separados;
Com uma hora de amor a alma é já contente.


Júlio Dinis - Lisboa, 1869

sábado, 8 de setembro de 2007


Shakespeare já dizia: "Cuidado com o ciúme; é um monstro de olhos verdes que zomba da carne com que se alimenta". Em outras palavras: o ciumento envenena seu próprio banquete, comendo-o depois.


Joseph Murphy

Durante toda a vida normalmente os homens só entram em contacto com um certo tipo de mulher e uma mulher com certo tipo de homem. Como se um tipo de mulher fosse predeterminado para cada homem e um tipo de homem para cada mulher, acontecem os divórcios, separações…após se verificar o engano.
De facto não se vê nenhum tipo de mulher nem de homem, mas apenas tipos de acontecimentos. Aquilo de que se fala, refere-se ao tipo real, isto é à essência. Se as pessoas pudessem viver na sua essência, um tipo de homem, encontraria sempre o tipo de mulher que lhe corresponde e nunca haveria falsa conjunção de tipos.
Mas as pessoas vivem com a sua personalidade, que têm os seus próprios interesses, os seus próprios gostos. Estes nada têm em comum com os interesses e gostos da essência. A personalidade em tal caso, é o resultado do mau trabalho dos centros. Por essa razão pode-se não gostar do que a essência gosta, e gostar precisamente do que a essência não gosta. É aqui que começa o conflito entre essência e personalidade. A essência sabe o que quer, mas não pode explicar. A personalidade não quer nem mesmo ouvi-la e não leva em nenhuma conta os seus desejos. Tem os seus próprios desejos e age ao seu modo. Mas ai termina o seu poder.
Depois de um modo ou de outro, as duas essências, a do homem e a da mulher que vivem juntas, passam por exemplo a odiar-se. Nesse domínio, não há comédia possível; de qualquer modo é a essência, o tipo, que finalmente predomina e decide.







P.D.Ouspensky in' Fragmentos de um ensinamento desconhecido'


"O medo corrói a alma"

Lobsang Rampa




Reconhecer o medo é o caminho mais curto para o dizimar.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007