sexta-feira, 14 de setembro de 2007

O último encontro.



Passaram a encontrar-se entre Marburgo e Berlim, numa cidade que ficava no percurso do comboio. O prazer da espera conservava o seu gosto proibido. Marcavam encontro nas estações e depois ele levava-a para quartos de hotel. O corpo a corpo ainda era vivo,mas sobrava o resto do tempo. Tão longo, tão estúpido. Martin vestia-se, ia-se embora.
Quando nos voltamos a ver?
Proximamente.
O que é o próximo?
O ser,na sua emergência.
Mas quando?,diz.
Ele não responde.
Agora não, nem tão cedo.
-Sabes bem que não sou dono do meu tempo - dizia ele.
Martin mantinha Hannah em sentinela. E ela submetia-se. A espera exacerbava o amor até á dor, como a ferida de uma criança cuja crosta ela arranca para fazer deitar sangue,por gosto. Muito sangue tinha corrido por debaixo das pontes que ligavam as estações dos comboios, e muito prazer também.
A crosta infectava só um pouco, mas sem septicemia.
Até ao dia do encontro gorado na plataforma da estação de Heidelberga.
Grangena fulminante, amputação do amor. A ferida cicatrizou, formando uma crosta espessa que Hannah deixou sossegada. Operação bem sucedida.
Hannah já não arranhava a ferida que julgava curada.
Um dia, depois da separação, Martin fora a Berlim visitar o jovem marido de Hannah. E a ferida voltou a abrir.(...)



"O Ultimo encontro", de Catherine Clément

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