segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Simplicidade.



A simplicidade é o esquecimento de si, do seu orgulho e do seu medo; é quietude contra inquietude, alegria contra preocupação, ligeireza contra seriedade, espontaneidade contra reflexão, amor contra amor-próprio, verdade contra pretensão…o eu subsiste nela, é claro, mas como que mais leve, purificado, libertado.
Para quê essas perpétuas voltas sobre si mesmo? Nunca acabaríamos de nos avaliar, de nos julgar, de nos condenar…Nossas melhores acções são suspeitas; nossos melhores sentimentos, equívocos. O simples sabe disso e nem se importa. Ele não se interessa suficientemente para se julgar. Ele não se leva nem a sério nem a trágico. Segue o seu pequeno caminho, de coração leve, alma em paz, sem objectivo, sem nostalgia, sem impaciência. O mundo é o seu reino e lhe basta. O presente é a sua eternidade, e o satisfaz. Nada tem a provar, pois não quer parecer nada. Nada tem a buscar, pois tudo está ali. Há coisa mais simples que a simplicidade?




André Comte-Sponville, Pequeno tratado das grandes virtudes, do ensaio sobre a Simplicidade, Martins Fontes, pg. 170.

Sem comentários: