sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009



albert nunca recuperou a ausência Física de marta. mas guardou os silêncios e reconstruiu-os. em cada silêncio da sua vida, falava com ela – como fazia dantes, deitAdo ao seu lado, falando em silêncio, numa nudeZ absoluta, sem sEgredos nem medos. porque nada é mais íntimo e maiS indestrutível do que o silêncio partilhado. o silêncio fica porque nunca Mente, porque é tão íntimo que não pode sEr representado, é tão envolvente que não pode ser rasgado.
conheço bem albert e marta sei o quanto se amam em silêncio e à distância e não sei dizer como acabará a sua história. ele destrói-se, ela deFende-se. cAda um deLes faz por desejar ou fingir desejar a salvação própria, mas, acima de tudo, Teme a salvAção do outro. o silêncio é o que lhes resta, o que os une, uma finíssima película de tempo suspenso, para além da qual não há nada mais do que a escuridão dos abismos. e, por isso, nenhum deles ousa qualquer palavra, qualquer gesto, qualquer coisa que possa romper esse ténue fio que os prende à eternidade.
é uma história triste e sem fim feliz à vista. conto-a, porque me parece que ela encerra uma lição útil: nunca devemos amar em silêncio, nada é mais perigoso do que dividir com outrem os pensamentos vividos em silêncio.




Não Te Deixarei Morrer, David Crockett, Miguel Sousa Tavares

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