A terceira dimensão do amor de Freud é o reconhecimento do oposto tanto do amor quanto do ódio: a indiferença. Se tu és indiferente a alguém ou alguma coisa, não fazes nenhum investimento emocional nele ou nela. Sem emoções investidas, não se pode amar nem odiar. Isto permite-te exercer a razão imparcial, o que é útil na maioria dos casos. Também constitui a base do estoicismo, cuja idéia condutora é não supervalorizar nada que te possa ser tirado pelos outros, pois ao fazê-lo tu te colocas sob o poder deles. Se ficas apegado demais a pessoas ou coisas, estás a criar problemas a ti próprio. A indiferença às circunstâncias pode ser boa, ainda mais quando as circunstâncias são más. É o que todos chamam de entender as coisas filosoficamente ou estoicamente. Esse tipo de indiferença não é insensibilidade nem falta de compaixão. É a capacidade de não entender as coisas de forma excessivamente pessoal, mesmo quando parece envolver a tua pessoa. É mais como ficar frio durante um tiroteio. Permite-te agir da melhor maneira possível sob stress.
Assim, do lado benéfico, a indiferença impede que tu sofras de apego negativo a alguma coisa. No entanto, a indiferença também faz com que tu não possas sentir o prazer do apego positivo a alguma coisa. Se passares a vida a tentar ser indiferente às pessoas e coisas para poupares-te de mal-estar, estarás a privar-te de envolvimento e satisfação. Também pode ser como uma pedra na floresta: cercada por todo tipo de ser vivo e exposta a todo tipo de mudanças naturais e estações, mas incapaz de relacionar-se organicamente com qualquer deles.
Lou Marinoff,in "Pergunte a Platão"
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