Caruso (1981) afirma que estudar a separação amorosa significa estudar a presença da morte na vida. Referindo-se ao ditado francês: 'partir c’est mourrir un peu' (partir é morrer um pouco), Caruso (1981, p.12) afirma que, na separação, há uma sentença de morte recíproca: “o outro morre em vida dentro de mim e eu também morro na consciência do outro”.
Segundo Freud (1974), o luto profundo, como reacção à perda de alguém que se ama, pode ser resumido como um estado de espírito penoso, na cessação de interesse pelo mundo externo, na perda da capacidade de adoptar um novo objecto de amor (o que significa substituí-lo) e no afastamento de toda e qualquer actividade que não esteja ligada a pensamentos sobre ele. O indivíduo em luto geralmente experimenta um desejo de reparar a perda e destruir o objecto que foi interiorizado como “bom” (Baker, 2001). É impossível prever quanto tempo durará o “período de luto”, assim como é difícil determinar o momento em que ele começa efectivamente (Giusti, 1987). Segundo Féres-Carneiro (1998), o tempo de elaboração do luto pela separação pode ser maior do que aquele do luto por morte.
Na medida em que a separação constitui a tão desejada solução para um problema que não poderia ser resolvido de outra forma, deveria, então, ser vivida como uma sensação de alívio, mas a mobilização emocional pós-separação, tal como percebida por Maldonado (1995), é intensa, pois a pessoa está diante do medo, da incerteza, da insegurança, que caracterizam a mudança de aspectos importantes de si mesmo. São comuns as atitudes irracionais, ilógicas e impulsivas.
A separação não é só o fim de uma união material, mas também a quebra de vínculos, de laços emotivos, sexuais e afectivos, criados, segundo Giusti (1987), tanto pelo amor como pelo ódio, pelas brigas e pelas reconciliações. Dependendo de quem é o responsável pelo término da relação, diferentes tipos de dor são sentidas. Embora seja considerado ruim para ambos, costuma sofrer mais aquele que é percebido como deixado. Não porque a separação não doa na pessoa que terminou, mas, segundo Colasanti (1986), porque este, para aliviar sua dor, tem o estímulo do impulso que o levou a agir e o sentido de renovação. Para quem quer separar-se, o que predomina, inicialmente, é o alívio, às vezes a euforia, por se ver livre do peso e da tensão da situação infeliz. A sensação de alívio amortece o impacto. Há a novidade, as mudanças, a passagem de um passado conhecido para um futuro sem previsões. Depois, costumam vir culpa e tristeza. Surgem aí, com toda força, os bons momentos, sonhos desfeitos, a tristeza pelo que poderia ter sido, mas não foi, pelo que não foi possível manter.
Os sentimentos de ódio e frieza, nessas horas, surgem para suavizar ou neutralizar os sentimentos de pesar e de culpa, que talvez doam muito mais. Pensar com raiva só nas coisas ruins anestesia a dor de lamentar o que não deu certo. Em meio ao ódio, ao ressentimento e à dor, vem a tendência a denegrir, difamar e rebaixar o ex-parceiro para convencer-se de que não perdeu grande coisa. Se, aos olhos da pessoa, o outro fica desprezível, será mais fácil acabar. Os defeitos se ressaltam, as qualidades passam para segundo plano no esforço de sentir menos as perdas ou de não se arrepender da decisão de separar-se (Maldonado, 1995). Quanto mais longa e íntima for a união, provavelmente mais desolador será o momento da separação, mesmo se a intimidade era produto de sofrimentos, incompreensões e ofensas (Giusti, 1987).
Diante da percepção de que a decisão do outro é irreversível, costuma vir a depressão, quase sempre acompanhada pelos sentimentos de auto depreciação, pena de si mesmo, baixa auto-estima. As etapas se mesclam, principalmente a depressão com auto desvalorização e a raiva com o ataque ao parceiro, a vingança e a hostilidade (Maldonado, 1995; Mearns, 1991). A depreciação da pessoa amada, segundo Klein e Rivière (1975), pode ser um mecanismo útil de vasta aplicação que nos permite suportar decepções sem nos tornarmos selvagens. Um certo grau de depreciação de qualquer pessoa ou coisa querida a que se renunciou é provavelmente inevitável, mesmo se configurada em pouco mais que a descoberta do fato de que a pessoa, ou coisa desejada, fora exageradamente idealizada.
É difícil deixar de pensar a respeito da vida e dos actuais sentimentos do nosso antigo companheiro: se ele sente nossa falta, se precisa de nós ou se está reconstruindo sua própria vida. As possíveis novas relações do parceiro podem dar início ao ciúme, inclusive em quem nunca o sentiu. “É possível que um indivíduo deseje estar - ou mesmo, no nível da fantasia, sinta-se - comprometido com uma pessoa amada sem que a recíproca seja verdadeira, e, nesse caso, a interferência de um rival pode gerar o ciúme, apresentando as mesmas características de uma situação triangular real” (Ramos, 2000, p. 32).
O ciúme e o sentimento de posse emergem, especialmente, quando se perdem todos os direitos: se antes tínhamos “o direito de amor exclusivo” sobre uma pessoa, quando ele cessa de existir, surge uma profunda sensação de frustração e de impotência. Às vezes ocorre que, depois da separação, ao mesmo tempo em que se aguça o desejo de possuir e de controlar o outro, acaba-se perdendo toda a motivação para viver e experimenta-se a penosa sensação de estar à deriva (Giusti, 1987). Para Wilson (2000), o término de um romance, mesmo o primeiro, pode disparar uma depressão vitalícia, principalmente nas pessoas que têm uma vulnerabilidade predeterminada a vicissitudes românticas e a deprimir-se durante tais períodos difíceis.
Há pessoas que se protegem do impacto emocional da separação fazendo uma defesa de “anestesia afectiva total” (Maldonado, 1995, p.122): “Eu estou tão estranha, não consigo sentir nem alegria nem tristeza”. Há quem se isole, preferindo ficar sozinho ou em contacto com pouca gente para ter a sensação de paz e de alívio. Vilhena (1991), ao referir-se à separação, enfatiza a questão da “capacidade de ficar só” dos sujeitos e distingue diferentes formas de solidão.
A solidão pode representar uma possibilidade de ficar consigo mesmo ou uma incapacidade de tolerar a indiferença do outro, manifestando-se tanto no isolamento voluntário como na busca compulsiva de companhia. Pouco a pouco, porém, as emoções que nos mantêm impossibilitados de reagir vão sendo reelaboradas e vividas de maneira mais direta e menos dilacerante. “Somos indivíduos reprimidos pelo proibido e pelo impossível, que procuram adaptar-se a seus relacionamentos extremamente imperfeitos. Vivemos de perder e abandonar, e de desistir. E, mais cedo ou mais tarde, com maior ou menor sofrimento, todos nós compreendemos que a perda é, sem dúvida, uma condição permanente da vida humana” (Viorst, 1988, p. 243).
Segundo Freud (1974), o luto profundo, como reacção à perda de alguém que se ama, pode ser resumido como um estado de espírito penoso, na cessação de interesse pelo mundo externo, na perda da capacidade de adoptar um novo objecto de amor (o que significa substituí-lo) e no afastamento de toda e qualquer actividade que não esteja ligada a pensamentos sobre ele. O indivíduo em luto geralmente experimenta um desejo de reparar a perda e destruir o objecto que foi interiorizado como “bom” (Baker, 2001). É impossível prever quanto tempo durará o “período de luto”, assim como é difícil determinar o momento em que ele começa efectivamente (Giusti, 1987). Segundo Féres-Carneiro (1998), o tempo de elaboração do luto pela separação pode ser maior do que aquele do luto por morte.
Na medida em que a separação constitui a tão desejada solução para um problema que não poderia ser resolvido de outra forma, deveria, então, ser vivida como uma sensação de alívio, mas a mobilização emocional pós-separação, tal como percebida por Maldonado (1995), é intensa, pois a pessoa está diante do medo, da incerteza, da insegurança, que caracterizam a mudança de aspectos importantes de si mesmo. São comuns as atitudes irracionais, ilógicas e impulsivas.
A separação não é só o fim de uma união material, mas também a quebra de vínculos, de laços emotivos, sexuais e afectivos, criados, segundo Giusti (1987), tanto pelo amor como pelo ódio, pelas brigas e pelas reconciliações. Dependendo de quem é o responsável pelo término da relação, diferentes tipos de dor são sentidas. Embora seja considerado ruim para ambos, costuma sofrer mais aquele que é percebido como deixado. Não porque a separação não doa na pessoa que terminou, mas, segundo Colasanti (1986), porque este, para aliviar sua dor, tem o estímulo do impulso que o levou a agir e o sentido de renovação. Para quem quer separar-se, o que predomina, inicialmente, é o alívio, às vezes a euforia, por se ver livre do peso e da tensão da situação infeliz. A sensação de alívio amortece o impacto. Há a novidade, as mudanças, a passagem de um passado conhecido para um futuro sem previsões. Depois, costumam vir culpa e tristeza. Surgem aí, com toda força, os bons momentos, sonhos desfeitos, a tristeza pelo que poderia ter sido, mas não foi, pelo que não foi possível manter.
Os sentimentos de ódio e frieza, nessas horas, surgem para suavizar ou neutralizar os sentimentos de pesar e de culpa, que talvez doam muito mais. Pensar com raiva só nas coisas ruins anestesia a dor de lamentar o que não deu certo. Em meio ao ódio, ao ressentimento e à dor, vem a tendência a denegrir, difamar e rebaixar o ex-parceiro para convencer-se de que não perdeu grande coisa. Se, aos olhos da pessoa, o outro fica desprezível, será mais fácil acabar. Os defeitos se ressaltam, as qualidades passam para segundo plano no esforço de sentir menos as perdas ou de não se arrepender da decisão de separar-se (Maldonado, 1995). Quanto mais longa e íntima for a união, provavelmente mais desolador será o momento da separação, mesmo se a intimidade era produto de sofrimentos, incompreensões e ofensas (Giusti, 1987).
Diante da percepção de que a decisão do outro é irreversível, costuma vir a depressão, quase sempre acompanhada pelos sentimentos de auto depreciação, pena de si mesmo, baixa auto-estima. As etapas se mesclam, principalmente a depressão com auto desvalorização e a raiva com o ataque ao parceiro, a vingança e a hostilidade (Maldonado, 1995; Mearns, 1991). A depreciação da pessoa amada, segundo Klein e Rivière (1975), pode ser um mecanismo útil de vasta aplicação que nos permite suportar decepções sem nos tornarmos selvagens. Um certo grau de depreciação de qualquer pessoa ou coisa querida a que se renunciou é provavelmente inevitável, mesmo se configurada em pouco mais que a descoberta do fato de que a pessoa, ou coisa desejada, fora exageradamente idealizada.
É difícil deixar de pensar a respeito da vida e dos actuais sentimentos do nosso antigo companheiro: se ele sente nossa falta, se precisa de nós ou se está reconstruindo sua própria vida. As possíveis novas relações do parceiro podem dar início ao ciúme, inclusive em quem nunca o sentiu. “É possível que um indivíduo deseje estar - ou mesmo, no nível da fantasia, sinta-se - comprometido com uma pessoa amada sem que a recíproca seja verdadeira, e, nesse caso, a interferência de um rival pode gerar o ciúme, apresentando as mesmas características de uma situação triangular real” (Ramos, 2000, p. 32).
O ciúme e o sentimento de posse emergem, especialmente, quando se perdem todos os direitos: se antes tínhamos “o direito de amor exclusivo” sobre uma pessoa, quando ele cessa de existir, surge uma profunda sensação de frustração e de impotência. Às vezes ocorre que, depois da separação, ao mesmo tempo em que se aguça o desejo de possuir e de controlar o outro, acaba-se perdendo toda a motivação para viver e experimenta-se a penosa sensação de estar à deriva (Giusti, 1987). Para Wilson (2000), o término de um romance, mesmo o primeiro, pode disparar uma depressão vitalícia, principalmente nas pessoas que têm uma vulnerabilidade predeterminada a vicissitudes românticas e a deprimir-se durante tais períodos difíceis.
Há pessoas que se protegem do impacto emocional da separação fazendo uma defesa de “anestesia afectiva total” (Maldonado, 1995, p.122): “Eu estou tão estranha, não consigo sentir nem alegria nem tristeza”. Há quem se isole, preferindo ficar sozinho ou em contacto com pouca gente para ter a sensação de paz e de alívio. Vilhena (1991), ao referir-se à separação, enfatiza a questão da “capacidade de ficar só” dos sujeitos e distingue diferentes formas de solidão.
A solidão pode representar uma possibilidade de ficar consigo mesmo ou uma incapacidade de tolerar a indiferença do outro, manifestando-se tanto no isolamento voluntário como na busca compulsiva de companhia. Pouco a pouco, porém, as emoções que nos mantêm impossibilitados de reagir vão sendo reelaboradas e vividas de maneira mais direta e menos dilacerante. “Somos indivíduos reprimidos pelo proibido e pelo impossível, que procuram adaptar-se a seus relacionamentos extremamente imperfeitos. Vivemos de perder e abandonar, e de desistir. E, mais cedo ou mais tarde, com maior ou menor sofrimento, todos nós compreendemos que a perda é, sem dúvida, uma condição permanente da vida humana” (Viorst, 1988, p. 243).
'Sentimentos predominantes após o término de um relacionamento amorosos' de Mariana Valença Marconde, Michele Trierweiler e Roberto Moraes Cruz
2 comentários:
Li, gostei
impressionante
não fazia ideia que havia tanto estudo sobre a separação, apesar de todos sentirmos isso em determinada fase da vida
Arthur:
É.Ás vezes é tão dificil passar para papel sentimentos,e no fundo tudo ou quase tudo já foi dito,porque num ou noutro momento,algures,alguem, já o sentiu tambem.
beijinho :)
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