sexta-feira, 9 de novembro de 2007





Tu lembras daqueles grandes espelhos côncavos ou convexos que, em certos estabelecimentos, os proprietários colocavam à entrada para atrair os fregueses, achatando-os, alongando-os, deformando-os nas mais estranhas configurações?Nós, as crianças de então, achávamos uma bruta graça, por saber que era tudo ilusão, embora talvez nem conhecêssemos o sentido da palavra “ilusão”.Não, nós bem sabíamos que não éramos aquilo!Depois, ao crescer, descobrimos que, para os outros, não éramos precisamente isto que somos, mas aquilo que os outros vêem.Cuidado, incauto leitor! Há casos, na vida, em que alguns acabam adaptando-se a essas imagens enganosas, despersonalizando-se num segundo 'eu'.Que pode uma alma, ainda por cima invisível, contra o testemunho de milhares de espelhos?Eis aqui um grave assunto para um conto, uma novela, um romance, ou uma tese de mestrado em Psicologia.









Mário Quintana in 'Na Volta Da Esquina'

2 comentários:

Helena Magalhães disse...

E eu que conheço tantas dessas pessoas que acabam por adaptar o "eu" que os outros vêem nelas ou querem que elas sejam..

dreams.and.nigthmares disse...

Helena de Troia:
Conhecemos,infelizmente conhecemos...
Mas o que esconde a atitude destas pessoas é exactamente uma enorme falta de segurança,e de confiança.Nelas próprias.
Criam mundos irreais á parte do verdadeiro porque simplesmente têm medo que dando-se a conhecer como são,sejam olhados de lado,ou nao vinguem.Chama-se a isto uma fraca auto-estima,comum nowadays.
beijito