domingo, 27 de dezembro de 2009
sábado, 26 de dezembro de 2009
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Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a manhã da minha noite. É verdade que te podia dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos apenas dentro de nós próprios?" Mas ensinaste-me a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou, até sermos um apenas no amor que nos une, contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor; ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo esse que mal corria quando por ele passamos, subindo a margem em que descobri o sentido de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor, de chegar antes de ti para te ver chegar, com a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu: a primavera luminosa da minha expectativa, a mais certa certeza de que gosto de ti, como gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.
Nuno Júdice, in - Pedro, Lembrando Inês
Canção Grata.
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Por tudo o que me deste
inquietação cuidado
um pouco de ternura
é certo mas tão pouca
Noites de insónia
Pelas ruas como louca
Obrigada, obrigada
Por aquela tão doce
e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
Sem ironia aceita
A minha gratidão
Que bem que me faz agora
o mal que me fizeste
Mais forte e mais serena
E livre e descuidada
Sem ironia amor obrigada
Obrigada por tudo o que me deste
Por aquela tão doce
e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
Sem ironia aceita
A minha gratidão!
Florbela Espanca
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
domingo, 13 de dezembro de 2009
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(...) Falámos demasiado para que eu esqueça do que falámos, vivemos demasiadas vidas para que eu as possa separar. Para que eu me possa separar de ti. A memória tende a desfibrar-se, víscera velha, nesta condição a que chamei apenas imaterial para não te assustar. Vejo tudo, continuamente. O espectáculo da vida interfere com a minha deambulação ao passado. (...) Qualquer dia olho para ti e já não sei quem fomos - encontros, desencontros, iras, ressentimentos, tudo se transforma numa massa fosca, pesada, que tento abandonar a pouco e pouco. (...) Começo a ver-te fora do tempo, esforço-me muito para recapitular o que me traz aqui, (...) O estado em que me encontro é angustiante: como se vivesse em sonolência diante de um filme que já não posso recriar, vendo tudo: o passado e o futuro - que afinal são um só - e aprendendo demasiado tarde o que não fui capaz de ver. (...)
in "Fazes-me Falta", Inês Pedrosa
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