segunda-feira, 8 de junho de 2009



Meu coração tardou. Meu coração
Talvez se houvesse amor nunca tardasse;
Mas, visto que, se o houve, houve em vão,
Tanto faz que o amor houvesse ou não.
Tardou. Antes, de inútil, acabasse.
Meu coração postiço e contrafeito
Finge-se meu. Se o amor o houvesse tido,
Talvez, num rasgo natural de eleito,
Seu próprio ser do nada houvesse feito,
E a sua própria essência conseguido.
Mas não. Nunca nem eu nem coração
Fomos mais que um vestígio de passagem
Entre um anseio vão e um sonho vão.
Parceiros em prestidigitação,
Caímos ambos pelo alçapão.
Foi esta a nossa vida e a nossa viagem.








Fernando Pessoa

3 comentários:

Anónimo disse...

"Se eu largar
Eu sinto a sua falta
Se eu agarro ela perde a côr
Ela não é dos meus dedos
É dos meus medos
E faço-me passar por uma flor..."

Su M. disse...

"Mas, visto que, se o houve, houve em vão,
Tanto faz que o amor houvesse ou não."

Trecho que como lâmina não sairá de mim.

-

Teus escritos são belos.

Su M. disse...

Perdão, perdão.
O escrito não é de sua autoria, mas fora bem colocado de qualquer forma.

Fernando Pessoa, correto?...
Só agora observei.
^^