segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Pega no telefone e liga-lhe, não tens nada a perder. Diz-lhe que tens saudades dele, que ninguém te faz tão feliz, que os teus dias são secos, frios e áridos, como um deserto imenso, sem oásis nem miragens, sempre que não estão juntos. Pega no telefone e liga-lhe. Se ele não atender, deixa-lhe uma mensagem. Ou então escreve-lhe um sms a dizer que queres estar com ele. Não te alongues nem elabores, os homens nunca percebem o que queres deixar cair nas entrelinhas. Tens de ser clara, directa e incisiva. E não podes ter medo, porque o medo é o maior inimigo do amor. Cada vez que deixares o medo entrar-te nas tuas veias, ele vai gelar-te o sangue e paralisar-te os nervos, ficas transformada numa estátua de sal e morres por dentro. A vida é uma incógnita, hoje estás aqui, amanhã podes ficar doente, ou cair-te um piano em cima quando fores a andar na rua. Ainda há pessoas que atiram pianos pela janela, sabias? Nunca se sabe como será o dia de amanhã, por isso não percas tempo e pega no telefone e liga-lhe. Tenho a certeza que ele te vai ouvir, tenho a certeza que ele te vai ajudar, tenho a certeza que ele, à sua maneira - e é tão estranha a forma como os homens gostam de nós - ainda gosta de ti. Mesmo que já não te ame, ainda gosta de ti, como tu vais aprender a gostar dele, quando a vida te obrigar a desistir deste amor. Ele está longe, mas olha para ti por entre memórias, presentes e flores. À noite, entre sonhos alterados pelo álcool e as drogas leves, tu apareces-lhe na cama e ele volta a sentir o cheiro da tua pele e volta a amar-te com todas as suas forças. Ainda que não acredites, tu viverás para sempre nele, tal como ele vive em ti, na memória das tua células, num passado que pode ser o teu escudo, mesmo que não seja o teu futuro. Pega no telefone e liga-lhe. Fala com ele de coração aberto, diz-lhe o que queres ver, chora se for preciso, pede-lhe que te diga se sim ou se não. Se for preciso, por mais que te custe, pede-lhe para escrever a palavra NÃO. Pede-lhe uma resposta para o teu coração. Mais vale saberes que acabou tudo do que viveres com as laranjas todas no ar, qual malabarista exausto, sem saberes nem como nem quando elas vão cair. Mais vale chorar a tristeza de um amor perdido do que sonhar com um oásis que se tranformou numa miragem. Pega no telefone e liga-lhe. Liga as vezes que forem precisas até conseguires uma resposta, a paz de uma certeza, mesmo que essa certeza não seja a que desejavas ouvir. Mas não fiques quieta, à espera que a vida te traga respostas. a vida é tua, tens de ser tu a vivê-la, não podes deixar que ela passe por ti, tu é que passas por ela. E quando todas as laranjas caírem, apanha-as com cuidado, guarda-as num cesto e muda de profissão. O circo é para quem não tem casa nem país, não é vida para ninguém. Guarda as laranjas num cesto, leva-as para casa e faz um bolo de saudades para esquecer a mágoa. E nunca deixes de sonhar que, um dia, vais encontrar alguém mais próximo e mais generoso, que te ensine a ser feliz, mesmo com todas as pedras que encontrarem no caminho. Larga as laranjas e muda de vida. A vida vai mudar contigo.
Margarida Rebelo Pinto in 'Vou contar-te um segredo'
Nunca se apaixone por uma coisa selvagem, Sr. Bell - Holly aconselhou-lhe. - E foi esse o erro de Doc. Ele estava sempre abrigando coisas selvagens em casa. Um gavião com a asa ferida. Uma vez um puma crescido com a pata quebrada. Mas você não pode entregar o coração a coisas selvagens: quanto mais você dá, mais fortes ficam. Até que ficam bastante fortes para correr para o mato. Ou voar para uma árvore. Então uma árvore maior. Então o céu. É assim que se termina, Sr. Bell. Se a gente se deixa amar uma coisa selvagem. Acaba-se olhando para o céu.
Truman Capote, pg. 156, in 'Histórias Maravilhosas'
sábado, 27 de outubro de 2007
BACK :)
Bem,tanta coisa para partilhar com voçes que fica difícil passar tudo para aqui.
Demorei para voltar,mas aqui estou.Não morri ,não fugi,nem desapareci do mapa :)
Desculpem a mais que enorme ausência,mas com tanto trabalho,tanta falta de tempo e enorme cansaço,vir aqui tornou-se impossível.
Bem,então pormenores.
Uma semana e meia por Coimbra,em formação,com uma média de quatorze horas diárias de trabalho,e umas quatro de sono,sem descanso,dão cabo de qualquer um. Nem mais,este foi o meu dia-a-dia nestes últimos quinze dias.
Ter a casa no hotel também não ajuda,e mesmo com o portátil por perto ,a verdade é que o cansaço era tanto que quando chegava ao quarto do hotel,era banho e cama.Ligá-lo era mesmo só uma tentativa sonambula frustrada :)
Conheci imensa gente nova: pessoas que adorei,e outras tantas víboras óptimas para aguçar a competitividade :) Vibro com isto :)))
Foram dias enormes... vividos com uma intensidade brutal,mas desgastantes até mais não.
Moral da história,mais uma experiência de vida para juntar ás demais.
De Coimbra,parece mentira,mas tirando o táxi e o hotel Ibis,não parei em mais lado nenhum.Não houve saídas,quer dizer,compras sim,como sempre (o que não é difícil diga-se de passagem ),mas noites... daquelas,nem vê-las. Rendi-me por completo ao cansaço.
Ainda deu tempo para passar na minha casa da Figueira,mas só deu mesmo para apanhar a correspondência,tomar um café e arrancar.
Já estou novamente em Idanha-a-Nova ( aulas universidade),mas neste momento de malas e bagagens para Castelo Branco. Por falar nisso, se alguém souber de uma apartamento para arrendar lá ,T2 ou T3,centro da cidade, que comunique,estou á procura.
De resto,tinha dito que não me iria expor desta forma,tendo em conta a notória falta de anonimato,mas depois de ter passado tanto tempo sem comunicar com voçes,não poderia deixar de ao de leve partilhar convosco uma cadidito de nada destes meus últimos dias.
Este blog continua.
E escusado será dizer que senti a falta de todos :) Senti.
Bem ,sem mais,let's roll...
Demorei para voltar,mas aqui estou.Não morri ,não fugi,nem desapareci do mapa :)
Desculpem a mais que enorme ausência,mas com tanto trabalho,tanta falta de tempo e enorme cansaço,vir aqui tornou-se impossível.
Bem,então pormenores.
Uma semana e meia por Coimbra,em formação,com uma média de quatorze horas diárias de trabalho,e umas quatro de sono,sem descanso,dão cabo de qualquer um. Nem mais,este foi o meu dia-a-dia nestes últimos quinze dias.
Ter a casa no hotel também não ajuda,e mesmo com o portátil por perto ,a verdade é que o cansaço era tanto que quando chegava ao quarto do hotel,era banho e cama.Ligá-lo era mesmo só uma tentativa sonambula frustrada :)
Conheci imensa gente nova: pessoas que adorei,e outras tantas víboras óptimas para aguçar a competitividade :) Vibro com isto :)))
Foram dias enormes... vividos com uma intensidade brutal,mas desgastantes até mais não.
Moral da história,mais uma experiência de vida para juntar ás demais.
De Coimbra,parece mentira,mas tirando o táxi e o hotel Ibis,não parei em mais lado nenhum.Não houve saídas,quer dizer,compras sim,como sempre (o que não é difícil diga-se de passagem ),mas noites... daquelas,nem vê-las. Rendi-me por completo ao cansaço.
Ainda deu tempo para passar na minha casa da Figueira,mas só deu mesmo para apanhar a correspondência,tomar um café e arrancar.
Já estou novamente em Idanha-a-Nova ( aulas universidade),mas neste momento de malas e bagagens para Castelo Branco. Por falar nisso, se alguém souber de uma apartamento para arrendar lá ,T2 ou T3,centro da cidade, que comunique,estou á procura.
De resto,tinha dito que não me iria expor desta forma,tendo em conta a notória falta de anonimato,mas depois de ter passado tanto tempo sem comunicar com voçes,não poderia deixar de ao de leve partilhar convosco uma cadidito de nada destes meus últimos dias.
Este blog continua.
E escusado será dizer que senti a falta de todos :) Senti.
Bem ,sem mais,let's roll...
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
terça-feira, 9 de outubro de 2007
"A cabeça dos seres humanos nem sempre está completamente de acordo com o mundo em que vivem, há pessoas que têm dificuldade em ajustar-se à realidade dos factos, no fundo não passam de espíritos débeis e confusos que usam as palavras, às vezes, habilmente, para justificar a sua cobardia..."
José Saramago
domingo, 7 de outubro de 2007
Outrora, eu também considerei o futuro como único juiz competente de nossas obras e de nossos actos. Mais tarde é que compreendi que o namoro com o futuro é o pior dos conformismos, a cobarde adulação do mais forte. Pois o futuro é sempre mais forte que o presente. É realmente ele, com efeito, que nos julgará. E, certamente, sem nenhuma competência.
Milan Kundera,in 'A Arte do Romance'
sábado, 6 de outubro de 2007
O estudo dos símbolos permite compreender com o coração o que poderia estar vedado à inteligência. “O corpo humano proporciona-nos exemplos preciosos e de uma analogia, não só poética mas fundada em factos: o ser humano que sobe por uma encosta, inclina a cabeça, aquele que desce, pelo contrário, a levanta. Isto significa que a humildade é necessária para aquele que quer subir e que o orgulho realiza o contrário de um progresso.
Karl Von Eckartshausen
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Razões para ler...
O homem constrói casas porque está vivo, mas escreve livros porque se sabe mortal. Ele vive em grupo porque é gregário, mas lê porque se sabe só. Esta leitura é para ele uma companhia que não ocupa o lugar de qualquer outra, mas nenhuma outra companhia saberia substituir. Ela não lhe oferece qualquer explicação definitiva sobre o seu destino, mas tece uma trama cerrada de conivências entre a vida e ele. Ínfimas e secretas conivências que falam da paradoxal felicidade de viver, enquanto elas mesmas deixam claro o trágico absurdo da vida. De tal forma que nossas razões para ler são tão estranhas quanto nossas razões para viver. E a ninguém é dado o poder para pedir contas dessa intimidade.
Daniel Pennac,in 'Como um Romance'
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
A experiência do Silêncio.
“Um homem dirigiu-se a um convento de clausura, isto é, um convento onde se vive longe do ruído da cidade e num silêncio desejado. Perguntou a um desses monges:
- Que aprendeis vós com a vossa vida de silêncio?
O monge estava a tirar água de um poço. Disse ao seu visitante:
- Olha para o fundo do poço. Que vês lá dentro?
O homem olhou para dentro e disse:
- Não vejo nada.
O monge ficou algum tempo sem se mover e no final disse ao visitante:
- Contempla agora. Que vês no fundo do poço?
O homem obedeceu e respondeu:
- Agora vejo-me a mim próprio: espelho-me na água.
O monge concluiu:
- Vês? Quando eu mergulho o balde, a água fica agitada. Agora, pelo contrário, está tranquila. É esta a experiência do silêncio: o homem vê-se a si próprio.”
Autor desconhecido
Em todos nós, no mais profundo da alma, há uma subterrânea inquietação, o desejo daquilo que parece sempre escapar-nos, a dor por qualquer coisa que não sabemos bem o que seja. Até quando estamos apaixonados e somos correspondidos, no momento em que nos vamos embora ou o nosso amado parte, mesmo numa seperação breve, aquele sofrimento profundo reaparece. Por vezes reaparece até num momento de felicidade porque aquela felicidade se nos revela fugaz. Nós olhamos para o céu, um pequeno pedaço de céu azul, como que para concentrar nele toda a nossa felicidade e sentimos tristeza porque poderemos recordar aquele céu mas não podemos prolongar esse instante. Experimentamos este sofrimento à noite, sem motivo, de manhã ao acordar sem saber porquê. A nossa alma está construída para desejar algo absoluto e, portanto, inefável e inacessível. Quando estamos ocupados não nos apercebemos disso (…) mas toda a nossa vontade está orientada para a meta e é ela que se ilumina com aquilo que procuramos sempre…
Francesco Alberoni in “A árvore da vida”
Passamos por velhacos ou manhosos quando não paramos de perguntar a nós próprios como nos vêem os outros, quando nos esforçamos por ser o mais simpáticos possível. Mas entre o meu eu e o do outro, existirá algum contacto directo, sem a mediação dos olhos? Será pensável o amor sem uma perseguição angustiada da nossa própria imagem no pensamento da pessoa amada? Quando deixamos de nos preocupar com a maneira como o outro nos vê, deixamos de o amar.
Milan Kundera, in “A Imortalidade”
Tenho o riso tão roto, tenho andado tão por baixo, que já não chego com as mãos à cabeça, já nem o riso consigo remendar. As lágrimas lavam-me a cara quando me deito e me levanto. Rasgam-me os lábios até às orelhas, cada vez que tento falar, para dizer aos outros que estou bem. Hoje vi-me ao espelho. Parecia um palhaço assassinado com uma faca. até a vontade de me rir eu perdi.
Miguel Esteves Cardoso
Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida. Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida interior. As maiores dores da minha vida esbatem-se quando, abrindo a janela para dentro de mim, pude esquecer-me da visão do seu movimento.
Nunca pretendi ser senão um sonhador. A quem me falou de viver nunca prestei atenção. Pertenci sempre ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser. Nunca amei coisa nenhuma. Nunca desejei senão o que nem podia imaginar. À vida nunca pedi senão que passasse por mim sem que eu a sentisse. Do amor apenas exigi que nunca deixasse de ser um sonho longínquo. Nas minha próprias paisagens interiores, irreais todas elas, foi sempre o longínquo que me atraiu, e os aquedutos que se esfumavam - quase na distância das minhas paisagens sonhadas, tinham uma doçura de sonho em relação às outras partes da paisagem - uma doçura que fazia com que eu as pudesse amar.
Nunca pretendi ser senão um sonhador. A quem me falou de viver nunca prestei atenção. Pertenci sempre ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser. Nunca amei coisa nenhuma. Nunca desejei senão o que nem podia imaginar. À vida nunca pedi senão que passasse por mim sem que eu a sentisse. Do amor apenas exigi que nunca deixasse de ser um sonho longínquo. Nas minha próprias paisagens interiores, irreais todas elas, foi sempre o longínquo que me atraiu, e os aquedutos que se esfumavam - quase na distância das minhas paisagens sonhadas, tinham uma doçura de sonho em relação às outras partes da paisagem - uma doçura que fazia com que eu as pudesse amar.
Fernando Pessoa,in 'Livro do desassossego'
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