domingo, 30 de setembro de 2007
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
“Seres humanos nunca pensam por si mesmos, acham muito desconfortável. Na maior parte, os membros de nossa espécie simplesmente repetem o que lhes é dito - e ficam aborrecidos quando expostos à qualquer ponto de vista diferente. O traço característico humano não é o conhecimento mas a conformidade, e a característica resultante é a guerra religiosa. Outros animais lutam por território ou comida; mas, singularmente no reino animal, os seres humanos lutam por suas ‘crenças.’ A razão é que as crenças guiam o comportamento, que tem uma importância evolucionária entre os humanos. Mas numa época onde o nosso comportamento pode nos levar à extinção, não vejo razão para assumir que temos qualquer conhecimento. Somos conformistas teimosos e auto-destrutivos. Qualquer outro ponto de vista da nossa espécie é apenas uma ilusão auto-congratulatória.”
Michael Crichton em “O Mundo Perdido”
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
CIÚMES, PAIXÃO, ÓDIO, SEDUÇÃO, SENSIBILIDADE (ESTUDO PSICOLÓGICO DO AMOR E OS SENTIMENTOS QUE O ACOMPANHAM) *
A paixão e sedução contidas na questão do amor encerram quase sempre elementos de poder, disputa e controle sobre o parceiro. O sentir-se “embriagado” pela paixão diz muito mais da necessidade de fuga das pessoas para a grande infelicidade vivida no dia a dia, assim sendo, tal fenômeno age como uma espécie de droga ou narcotizante da falta de sentido em relação a outro drama moderno, a rotina. A sedução atua quase sempre no predomínio estético ou sexual sobre determinada pessoa. É o uso intencional de um instrumento condicionado e valorizado pela sociedade, objetivando a adulação das características narcisistas do sujeito. Em tese também podemos definir que tanto a paixão quanto a sedução são uma espécie de rebelião ou protesto inconsciente contra a inevitável morte ou insatisfação no relacionamento. Tentam passar um ápice de uma durabilidade do gozo ou êxtase absolutamente questionável.
A sedução é a mais tenra ilusão de que o outro detém a chave perfeita para a satisfação completa de nossos desejos, e sempre nos esquecemos que preço o mesmo irá cobrar por tal tarefa; já a paixão é o sonho máximo de que seremos correspondidos constantemente, de que jamais poderá haver uma desaceleração da vontade e prazer.
A sensibilidade abre outro terreno árduo para sua compreensão plena. Freqüentemente é cobrada por um ou ambos os parceiros, embora mais tarde se queixem de seus efeitos colaterais. Outro grande erro é achar que a mesma só se manifestaria no pólo positivo, quando a grande verdade é que funciona como uma esponja que absorve todo tipo de amargura ou mazela emocional. Não basta apenas perceber o problema da contradição, dialética ou a oposição nos diferentes tipos de vivências e sentimentos, mas, sobretudo, enxergar como foram construídos no decorrer de nossa história de vida. O amor existe e sem nenhuma dúvida é uma necessidade vital, o grande problema é sincronizar sua dose, pois ambos os pólos descompensados podem ser fatais; tanto a falta que gera a mais pura carência, ou o que alguns acham que seja seu superlativo, o ciúme, também totalmente destrutivo em quase todas as relações. O importante não é e nunca foi à definição do que seja o amor, mas apenas a raridade do fenômeno nas diferentes culturas e épocas. O romantismo, a poesia e outros adornos apenas deram pistas ou serviram de muletas na construção de tão complexo sentimento humano. A tese central deste texto é exatamente a ligação do desejo ou necessidade com outras tarefas que são colocadas concomitantemente para a pessoa; mas como somos na maioria das vezes extremamente alienados, achamos que resolveremos um problema de cada vez.
O que precisa ser pesquisado é justamente como e quando alguém consegue obter a experiência do amor. Alguns advogam que o mesmo aparece após a vivência dolorosa de experiências desagradáveis, se mantendo intacta a esperança e fé do sujeito no seu potencial afetivo, diria que é algo bem raro em nossa atualidade, dominada por um rancor borbulhante em relação ao passado de frustração e mágoa. Estes dois últimos sentimentos produzem uma impermeabilização completa em relação a qualquer nova tentativa de entrega. Nossa era está repleta dessa absurda neurose, sendo que se procura a mais absoluta perfeição ou garantia para após começar a suposta troca. Tal prática nefasta revela não apenas o medo exposto anteriormente de uma nova frustração, mas que a pessoa que se deixou abalar não tem condição alguma para a experiência do amor, justamente por essa fragilidade e incapacidade de lidar com a perda. É uma criança completa no plano emocional, tentando forçar uma adequação às suas expectativas estéticas ou econômicas. Obviamente tal indivíduo não almeja em hipótese alguma a contemplação do amor, mas exclusivamente a veneração de seu conteúdo ambicioso e egoísta, com a desculpa de que é alguém especial e que precisa valorizar a si próprio, quando na verdade está o tempo todo participando de uma espécie de leilão de suas emoções.
Na verdade todas as barreiras citadas que impedem a verdadeira troca dizem de um ser que não deseja expor sua fragilidade, justamente por se considerar inferiorizado no plano emocional, e concomitante medo de ficar envolvido, pois para tal tipo de pessoa tal fenômeno é uma derrota, pois vê todo o relacionamento sobre a ótica do poder ou quem domina em tal esfera; então para fugir do conflito busca exigências irreais. Boa parte da procura da estética se encerra neste quadro, se escondendo uma grande deficiência afetiva embaixo de uma perfeição corporal sancionada pelo sistema de consumo.
Alguns filósofos e psicólogos tentaram definir o amor como uma experiência em que há maior empenho na satisfação do outro do que com suas próprias necessidades. Embora tal conceito seja louvável do ponto de vista humanista, diria que além desta capacidade inata para perceber o outro, muito mais importante é ter a certeza do potencial afetivo da pessoa que se ama, tendo a confiança de que a mesma reagirá com gratidão quando devotarmos para ela os mais nobres investimentos de nossa alma; ao contrário da inveja e incômodo que muitas pessoas demonstram ao serem ajudadas ou amparadas; enfim o desafio de todos é aferir se o outro também é capaz não apenas de trocar, mas se valoriza aquilo que o parceiro julga ser suas qualidades mais profundas. A baixa estima é um câncer para o processo afetivo. Nenhuma chama permanece acessa sem o incremento de determinado combustível. A derrocada amorosa se dá quando um dos dois apenas almeja retirar sem repor, ou o outro também não faz a mínima questão de crescer ou vivenciar algo novo. O problema de alguém se tornar insensível não diz apenas de uma fuga perante o medo do sofrimento, pois todos querendo ou não passarão por tal infortúnio; o que ninguém admite é vivenciar algo único, sendo assim a chamada opção por não ser sensível (do ponto de vista positivo como expliquei acima), é se afastar da sensação de solidão que um sentimento intenso produz. Quase ninguém almeja ser pioneiro no terreno emocional, a liderança e poder se focam no plano material. A prova maior disso tudo é que sempre um dos parceiros se queixa de que o outro doa muito menos na relação, como se estivesse se preparando para uma retirada ou abandono.
Outro fenômeno moderno no terreno afetivo é a questão do tédio precoce nos relacionamentos. Este fator está associado diretamente ao transporte do consumismo social para a esfera privada do indivíduo. É um tanto óbvio tal ocorrido. Como conseguiremos algo um pouco duradouro se nossa mente é corrompida diariamente pelo descartável produzido pelo desejo de consumo? Boa parte do fracasso nos relacionamentos é produzida pela falta de inteligência e percepção deste acontecimento diário. Que as pessoas gostam de nadar na ilusão até nem discuto, mas se cegar perante uma contaminação incisiva é no mínimo trabalhar para sua infelicidade própria. Em parte a própria psicologia explica o fascínio da pessoa pela dor e queixa constante, forçando o ambiente a consolar tal indivíduo tão desprotegido.
Pensemos na questão do ciúme. O mesmo foi eternizado como uma insegurança ou fraqueza emocional do sujeito. Isto é uma análise superficial, pois em verdade o ciúme é o mais profundo sinal ou indício de uma futura ruptura ou perda. A pessoa presa de tal sentimento não visualiza que seu excesso nada mais é do que uma antevisão da ruína de seu projeto afetivo. O ciumento amplifica suas emoções negativas e traz também as do parceiro para seu caldeirão íntimo de sofrimento. Outra essência do ciúme é o mais puro complexo de inferioridade, pois a pessoa já intuiu que será derrotada neste campo, ou que poderá haver repetição de vivências dolorosas que já experimentou. Tal processo pode acompanhar o sujeito à vida toda, caso o mesmo não procure ajuda psicológica para desfazer tal trava emocional. E sobre a carência, como se desenvolve?A pessoa que cresceu sob a ótica de tal condição acaba desenvolvendo um mecanismo curioso de compensação. Ao mesmo tempo em que se sente negligenciada em seu direito afetivo histórico, têm a convicção interna de que algo muito especial ainda estaria por vir; o problema é dimensionar o tempo que irá suportar tal espera, sendo que o tédio ou desânimo não tardarão a assolar tal indivíduo. A carência é a exploração máxima da paciência e expectativa perante um retorno afetivo do outro, que pode nunca ser efetivado. É a interrupção plena da liberdade para escolher novas pessoas que possam satisfazer a necessidade de amor do indivíduo, sendo que o mesmo irá insistir na sua dor pessoal de rejeição e conseqüente reparação.
O sofrimento afetivo mais cedo ou tarde cobrará uma definição. Ou irá ocorrer uma busca desenfreada por algum tipo de reparação como foi dito, ou a energia será direcionada a algo novo. O apego é o pilar máximo da sustentação do processo da carência. É fato que boa parte do esforço infrutífero gasto por determinada pessoa diz de algo que jamais poderá ser reativado, ou mesmo que o fosse talvez não teria a mínima importância. Há duas formas de se lidar com a perda e todos já as notaram: nos tornarmos mais fortes e reagirmos com toda a tristeza oriunda do evento traumático, gerando um dever de melhorar em conflito com a dor; a segunda é a depressão propriamente dita, sendo a recusa da reação por não enxergar um sentido além do apego ao evento mórbido.
É justamente neste ponto que entra o problema do amor, pois o mesmo deve ser algo totalmente novo e original com outro ser humano, no qual se confiará a experiência do desejo e prazer; caso não ocorra tal situação a relação se torna mera arena para se reviver todo o drama familiar passado e o mais legítimo complexo de inferioridade. A experiência real e profunda do amor implica em não se sentir tão afetado, humilhado ou destruído pelo passado.
Quando realmente podemos dizer que conhecemos nosso parceiro amoroso? Com toda a certeza quando conseguimos visualizar todo o seu potencial construtivo e destrutivo. Este último é freqüentemente confundido com a agressividade. Claro que não estamos falando aqui da violência física, mas tentando desmistificar o problema do que realmente seja a agressão. Uma das coisas mais cruéis nas relações é justamente a sedução perante uma pessoa e conseqüente retirada do relacionamento. Isto infelizmente já virou uma espécie de jogo sádico moderno. Ao invés de nos iludirmos constantemente com a beleza ou fascínio sexual por alguém, seria interessante avaliarmos a capacidade dessa pessoa para a reciprocidade. O mais perfeito retrato da sala de espera do inferno se dá quando um dos parceiros sente que o outro é o mais puro e ideal objeto de amor para o mesmo, porém, não ocorre à mínima seqüência ou correspondência. A análise do problema do amor não correspondido passa por vários tópicos, mas o principal é a escolha de uma espécie de ícone incapacitado para a troca. A busca pela beleza ou sensualidade que pode acarretar a não correspondência diz muito mais de uma pessoa imbuída de um profundo complexo de inferioridade, que busca na outra uma compensação de sua problemática, tornando-a um troféu que possa encobrir seu drama pessoal não resolvido. É a princípio um acordo mútuo entre duas pessoas extremamente ambiciosas, uma por ser venerada por seus dotes físicos, e a outra para provar aos outros sua glória por ter conseguido algo tão valioso apesar de sua limitação na autoestima; não precisamos lembrar que tal contrato possui uma curta duração.
Confesso que a coisa mais estranha ou sombria que ouvi na vida foi determinado relato de uma pessoa que disse ter encontrado o parceiro ideal, mas estava morrendo de medo do amor propriamente dito. É chocante tal relato justamente pelo sujeito intencionalmente abrir mão de uma experiência de quase puro êxtase. A primeira explicação já foi dada acima; a pessoa encara o amor como uma submissão ou inferioridade, buscando um parceiro que se doe muito mais do que ela. Mas como se manifesta o medo do amor nos homens e mulheres? Nos primeiros historicamente pelo desleixo, indolência e a infidelidade conjugal, dando uma mensagem explícita de que jamais criará raízes profundas em qualquer tipo de relação. Este problema está associado também à questão da timidez, pois tal distúrbio tem a característica de afastamento de todo tipo de envolvimento emocional profundo. O tímido apenas ensaia gostar e amar, sendo que sua meta principal é cavar apenas uma trincheira de isolamento e proteção perante o contato social. Seu medo central é passar por uma situação de prova, e o amor é o teste supremo da intimidade de um ser humano, assim sendo, irá renegar todo tipo de entrega, embora tal problema pertença a ambos os sexos.
Na mulher o medo do amor principalmente em nossa atualidade se dá pela agressividade ou qualquer tipo de cobrança irreal perante o parceiro. A própria condição hormonal da mulher é a mais pura prova disso. A tensão pré-menstrual exacerbada diz psicologicamente de uma mulher que reprimiu ou não sabe lidar com seu potencial agressivo, e a alteração hormonal é a válvula de escape para todos os seus instintos negados, tomando por completo a pessoa. É como um estado de embriaguez em que se expõe toda sua agressividade; esta no lado masculino visa à competição, embora as mulheres também adotem tal conduta. Mas para as mesmas a agressividade é o bloqueio central que interrompe a entrega. A análise psicológica profunda de tal conduta irá revelar que tal pessoa está revivendo longínquas experiências paternas com seu atual parceiro, onde o núcleo é definir emocionalmente a figura masculina como sendo raivosa, embora isto também não deixe de ser uma projeção de seu emocional. A catástrofe afetiva é a intersecção mórbida entre pai e amante, não um complexo de Édipo como a psicanálise enxerga, mas a convicção feminina de que o parceiro sempre a usou para desafogar seus mais sádicos instintos. A seguir começa a surgir o ódio e desejo de retaliação. Na verdade a culpa do homem por tal situação é encarar a afetividade como uma espécie de esquema bancário, achando que sua companheira tem o dever inato de suprir todas as suas necessidades pessoais, com o mínimo de troca possível, esta sim é a essência do chamado machismo, não desejar enxergar, ajudar ou colaborar com sua parceira. Para a mulher, restou o pânico atávico de se sentir usada o tempo todo.
Nos adultos o projeto eficiente de alfabetização emocional é desenvolver formas maduras de lidar com todos os tipos de sentimentos negados ou negativos: ódio, raiva, rancor, inveja, mágoa, tristeza, vingança, frustração, apego, saudade mórbida, dentre outros. Há também a necessidade de se perceber o custo na esfera afetiva no decorrer da vida, seja o preço a ser pago pela solidão, ou a carga que recebe da pessoa desejada, assim como o impacto de sua conduta emocional perante as pessoas mais próximas. A experiência do amor seria muito mais fácil para alguém que já a tenha saboreado plenamente no âmbito familiar. Embora tal conceito possa parecer um tanto antiquado, ainda é totalmente válido na dinâmica dos relacionamentos. Quando não se teve uma experiência de tão ampla magnitude e importância, a tendência é buscar fora do ambiente privado e familiar tal necessidade básica, com todo o atraso possível; o problema é que quando alguém procura algo imbuído de carência e privação afetiva, despertará ao mesmo tempo todo o sentimento negativo descrito anteriormente, pois o amor obedece também a condutas em conformidade com o desenvolvimento e crescimento da pessoa, muitos não percebem que clamam pelo mesmo de uma maneira totalmente inadequada ou infantilizada. A cura não passa apenas pelo encontro, até porque ninguém jamais terá certeza do amor em nossa era perante o parceiro, mas principalmente por se revelar e exigir que o outro tome atitude semelhante; desnudando seu ser.
Outro ponto indiscutível é que tendo ou não um relacionamento, quase todos estão tristes, descontentes ou insatisfeitos. Todos os elementos descritos neste texto dizem do correlato do amor, que é o ódio. Sentimento totalmente negado pela cultura e moralidade, mas que assola totalmente os relacionamentos. O primeiro passo para o incremento do ódio é não ter a consciência de que as pessoas mais íntimas é que colaboram para o crescimento de dito sentimento. O início sempre é algum tipo de contrariedade ou injustiça, passando para uma experiência de ligação diária e constante em relação ao objeto ou pessoa que causou a dor tão insuportável. Mas o ódio maior é quando se tem a certeza subjetiva de que o outro poderia completar totalmente a pessoa, mas se recusou em seu esforço ou competência para tal finalidade, conforme apontei acima. O ódio começa a surgir quando percebemos nossa miserabilidade afetiva, e o quanto está se mendigando afeto e atenção. O ódio é uma espécie de ritual ou neurose obsessiva, algo como um totem para que a própria pessoa o cultivando constantemente se lembre da experiência da dor e tente não repeti-la. O problema é que tal processo se torna quase que infinito;
(...)"
PSICÓLOGO ANTONIO CARLOS ALVES DE ARAÚJO,que teve a amabilidade de o ceder. Encontrarão o texto completo aqui: http://antonioaraujo_1.tripod.com/psico1/portugues/ciumeamor/ciumeamor.html ,
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
domingo, 23 de setembro de 2007
(Quase) feitos um para o outro
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
A fronteira entre a amizade e o amor.
O tempo, que fortalece as amizades, enfraquece o amor.
Jean de La Bruyére, in "Os Caracteres"
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Em definitivo
Não mais me consigo entender
Quero as coisas
Que não tenho
Realizo os sonhos
Que não procuro.....
Perco-me indefinidamente
No tempo e na ausência!
Por isso:
Desejo primeiro que Tu Ames,
E que amando também sejas amado,
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guardes magoa
Desejo pois que não seja assim
Mas se for, saibas ser sem desesperar.
Desejo também que tenhas amigos
Que mesmo maus e inconsequentes,
Sejam corajosos e Fieis
e que pelo menos num deles,
tu possas confiar sem duvidar
E porque a vida é assim
Desejo ainda que tenhas inimigos
Nem muitos, nem poucos
Mas na medida exacta, para que algumas vezes
Tu te interpeles a respeito
Das tuas próprias certezas
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo
Para que tu não te sintas demasiado... Seguro.
Depois desejo que sejas útil
Mas não insubstituível,
E que nos maus momentos
Quando não restar mais nada
Essa utilidade seja suficiente para te manteres de pé.
Desejo ainda que sejas tolerante
Não com os que erram pouco, isso é fácil
Mas com os que erram muito e irremediavelmente
E que fazendo bom uso dessa tolerância
Sirvas de exemplo aos outros!
Desejo que tu... sendo jovem
Não amadureças depressa demais,
E que sendo maduro, não insistas em rejuvenescer
E que sendo velho, não te dediques ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
Desejo por sinal que sejas triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia
Mas que nesse dia descubras
Que o riso diário é bom
O riso habitual é insosso e o riso constante insano
Desejo que descubras
Com a máxima urgência
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão a tua volta.
Desejo ainda que afagues um gato
Alimentes um cuco e ouças o galo
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque assim, vais-te sentir bem... por nada.
Desejo também que plantes uma semente
Por mais minúscula que seja
E acompanhes o seu crescimento
Para que saibas de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.
Desejo, outro sim, que tenhas dinheiro
Porque é preciso ser pratico
E que pelo menos uma vez por ano
Pegues num pouco dele
Coloques na tua frente e digas: Isto é meu
Só para que fique bem claro, quem é o dono de quem...
Desejo também que nenhum dos teus afectos morra
Por ele e por ti
Mas que se morrer, possas chorar
Sem te lamentares, sem te culpares.
Desejo por fim, que tu sendo Homem
Tenhas uma boa Mulher
E que sendo Mulher
Tenha um bom Homem
E que se Amem, Hoje, Amanhã e nos dias seguintes
E quando estiverem exaustos e sorridentes
Ainda haja Amor para recomeçar.
E se tudo isto acontecer....
Não tenho mais nada para te desejar.
Victor Marie Hugo
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Ás vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder e falar sem nada dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, a dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar. Ás vezes, é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo para falar e então alinhar as ideias, usar a cabeça e esquecer o coração, dizer tudo o que se tem a dizer, não ter medo de dizer não, não esquecer nenhuma ideia, nenhum pormenor, deixar tudo bem claro em cima da mesa para que não restem dúvidas e não duvidar nunca daquilo que estamos a fazer (...)Ás vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar.(...) Ás vezes é preciso mudar, o que parece não ter solução, deitar tudo abaixo para voltar a construir do zero, bater com a porta, apanhar o ultimo comboio no derradeiro momento e sem olhar para trás, abrir a janela e jogar tudo borda fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz, o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memoria sem medo de perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta, e deitar a chave fora, ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre...
Ás vezes é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não pedir, não aceitar nem participar, sair pela porta da frente, sem a fechar, pedir silencio paz e sossego sem dor sem tristeza e sem medo.
E partir para outro lugar, mesmo o que quando mais queremos é ficar, permanecer , Construir investir e Amar."
terça-feira, 18 de setembro de 2007
Um pensamento segue o outro por quê? Porque o primeiro pensamento não basta a si mesmo, se exige outro pensamento. Exige outro para certificar-se de si mesmo. Um pensamento segue outro porque o segundo duvida do primeiro, e porque o primeiro duvida de si mesmo. Um pensamento segue o outro pelo caminho da dúvida. Sou uma corrente de pensamentos que duvidam.
Vilém Flusser,in 'A Dúvida'
Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda,
Quanto mais eu…
Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência
Um pedido de carência, um pedido de amor.
Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr
Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor.
Mário Quintana
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Saber como levar as coisas. Tudo tem dois lados. Se pegar na lâmina, a melhor irá feri-lo; a mais nociva o defenderá se a segurar pelo cabo. Muitas coisas que causaram dor teriam causado prazer se suas vantagens tivessem sido também consideradas. Sempre há prós e contras; o segredo está em saber virar as coisas a nosso favor. As coisas parecem diferentes quando vistas a uma luz diferente. Portanto, olhe para elas à luz da felicidade. Não confunda bom e mau. Eis porque alguns encontram alegria em tudo, e outros, tristeza. Trata-se de uma defesa garantida contra os reveses da sorte, e de uma óptima regra de vida, em todos os tempos e em todas as actividades.
Baltasar Gracián, A Arte da Sabedoria Mundana, pg. 99
NOT TO GIVE...
Soltar. Desprender-se. As pessoas precisam de compreender que ninguém está a jogar com cartas marcadas, ás vezes ganhamos e ás vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam o seu esforço, que descubram o seu génio, que entendam o seu amor.
Encerre ciclos, não por orgulho por incapacidade ou por soberba, mas porque aquilo simplesmente já não se encaixa na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda o pó. Deixe de ser quem era e transforme-se em quem é.”
domingo, 16 de setembro de 2007
(...) os grandes mitos são grandes porque representam e incorporam grandes verdades universais, mas o mito do amor romântico é uma terrível mentira. É possível que não se possa prescindir dessa mentira, pois é ela que assegura a sobrevivência da paixão que leva ao casamento. Mas, como psiquiatra, lamento - quase que diariamente - a terrível confusão e o sofrimento que este mito provoca. Milhões de pessoas desperdiçam uma imensa quantidade de energia tentando, desesperada e inutilmente, amoldar a sua vida real a esse mito irreal.
M. Scott Peck
sábado, 15 de setembro de 2007
A VOZ DO SILÊNCIO
“Pior do que uma voz que cala, é um silêncio que fala”…..
Simples! Rápido! E quanta força!
Imediatamente me veio à cabeça situações em que o silêncio me disse verdades terríveis pois, você sabe, o silêncio não é dado a amenidades…Um telefone mudo. Um e-mail que não chega. Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca. Silêncios que falam…
Quantas coisas são ditas na quietude, depois de uma discussão. O perdão não vem, nem um beijo, nem uma gargalhada para acabar com o clima de tensão. Só ele permanece imutável, o silêncio, a ante-sala do fim. É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente não quer ouvir, pois ao menos as palavras que são ditas indicam uma tentativa de entendimento.
Cordas vocais em funcionamento articulam argumentos, expõem suas queixas, jogam limpo. Já o silêncio arquitecta planos que não são compartilhados. Quando nada é dito, nada fica combinado. Quantas vezes,numa discussão histérica, ouvimos um dos dois gritar: “Diz alguma coisa,mas não fica aí parado, me olhando”! É o silêncio de um mandando más notícias para o desespero do outro.
É claro que há muitas situações em que o silêncio é bem vindo. Para um cara que trabalha com uma britadeira na rua, o silêncio é um bálsamo. Para a professora de uma creche, o silêncio é um presente. Para os seguranças de um show de rock, o silêncio é um sonho. Mesmo no amor, quando a relação é sólida e madura, o silêncio a dois não incomoda, pois é o silêncio da paz.
O único silêncio que perturba é aquele que fala. E fala alto. É quando ninguém bate à nossa porta, não há recados na secretária electrónica e mesmo assim você entende a mensagem…
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
O último encontro.
Passaram a encontrar-se entre Marburgo e Berlim, numa cidade que ficava no percurso do comboio. O prazer da espera conservava o seu gosto proibido. Marcavam encontro nas estações e depois ele levava-a para quartos de hotel. O corpo a corpo ainda era vivo,mas sobrava o resto do tempo. Tão longo, tão estúpido. Martin vestia-se, ia-se embora.
Quando nos voltamos a ver?
-Sabes bem que não sou dono do meu tempo - dizia ele.
Martin mantinha Hannah em sentinela. E ela submetia-se. A espera exacerbava o amor até á dor, como a ferida de uma criança cuja crosta ela arranca para fazer deitar sangue,por gosto. Muito sangue tinha corrido por debaixo das pontes que ligavam as estações dos comboios, e muito prazer também.
Até ao dia do encontro gorado na plataforma da estação de Heidelberga.
Hannah já não arranhava a ferida que julgava curada.
"O Ultimo encontro", de Catherine Clément
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
Sentido
Precisamos de uma crença para que as coisas façam sentido em nosso mundo, para alcançarmos o tipo de compreensão necessária para o sentido. Todas as culturas uniram os pontos de estrelas no céu em diferentes constelações, projectando ordem no acaso como uma maneira de compreendê-lo. Quando percebemos um padrão, temos o sentido. Quando temos o sentido, podemos encontrar o propósito.
Tendemos a rejeitar as coisas desagradáveis como se não tivessem lugar no padrão, mas algumas filosofias, como o Tao, sempre explicam o entrelaçamento dos opostos. Se você procura o bem, também vai se deparar com o mal. Se procura o sentido, algumas coisas inexplicáveis acontecerão com você. Provavelmente, se você não entende um acontecimento como parte do padrão, é porque ainda não viu o todo.
Lou Marinoff, 'Mais Platão, Menos Prozac'
E no batizado, ensinaram a ele o que é sagrado.
Recebeu um caracol.
- Para que aprenda a amar a água.
Abriram a gaiola de um pássaro preso:
- Para que você aprenda a amar o ar.
Deram a ele uma flor de gerânio:
- Para que você aprenda a amar a terra.
E deram também uma garrafinha com tampa:
- Não abra nunca, nunca.
Para aprender a amar o mistério.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Frédéric Schiffter.
- Certamente.
- E se não gostarmos?
- Se não gostarmos de nós mesmos, monsieur, então estaremos perdidos, pois um homem que não gosta de si mesmo está repleto de dúvidas. Nós sobrevivemos e existimos porque somos verossímeis. Quando a equilibrista duvida ela cai. Quando o espadachim duvida ele morre. Devemos temer mais a dúvida do que uma arma.
Adeus
terça-feira, 11 de setembro de 2007
Traição feminina X Traiçao masculina
Traidores, traidoras, traídas e traídos, atentem-se ao texto de uma mulher madura pelas experiências, abençoada pela felicidade e desafiada a escrever um texto:(...)
Vou falar dos porquês! Por que o homem trai? Por que a mulher trai? Porque o homem não perdoa a traição(na maioria) e por que a mulher perdoa. Isso tem muito a ver com meu mundinho, aquele cor-de-rosa.
Os homens traem, não porque não amem loucamente suas esposa, namoradas e afins, mas porque têm necessidade disto. Eles não procuram outra mulher, mas uma aventura. É instinto. O homem tem sua natureza voltada para a fecundação. Desde o antigo homem das cavernas, ele procurava sua fêmea, procriava e saía pelo mundo. Prova disso é que ele pode ter mil filhos por ano.
Com a mulher é e sempre foi diferente, ela só pode ter um filho a cada nove meses. Nos primórdios, procurava seu macho, o mais forte, mais másculo, mais protector e mais bonito, pois ela precisava de alguém para procriar, e queria, obviamente, o melhor da espécie. A mulher, diferentemente, só pode ter um filho por ano. Ela não tem o mesmo número hormonal que o homem (e digo isso porque sei. Sou médica), sua taxa de testosterona, apesar de ser a mesma do homem, não se renova.
Se o homem trai é porque está tudo bem, ama sua esposa (vou me referir assim), mas precisa mudar, talvez até para que o casamento continue sendo aquela maravilha cor-de-rosa. Por isso eles negam, porque não querem perder a fêmea que escolheram. E não aceitam a traição dela, porque ela não é aventura como as outras. Foi a escolhida. Ela é a ideal. É para sempre. É a mãe de seus filhos. Não passageira como as outras. Não é uma apenas uma aventura sexual. É uma santa, idealizada e cor-de-rosa.
A mulher, se trai o marido... ALERTA! Algo não está bem (me corrijam se eu estiver errada) ou é o marido que não corresponde seus anseios ou pior ainda: está apaixonada.
Esse é o medo dos homens: Ficar para trás! Que ela o deixe! Teme perdê-la. Teme perdê-la por amor. E não venham dizer que se ama não trai porque trai. Tarai e trai! Isso é egocentrismo dele claro! Talvez a ame mais porque sabe que ela não o trairá! Se ela trair, acaba com sua auto-estima! Detona seu ego! Põe tudo a perder. Ele não perdoa não. Porque não perde (e perde mesmo) só seu amor! Perde também a santa cor-de-rosa!
O homem traído vira chacota! Vira c@%!o manso se perdoa a esposa! A mulher não, a mulher traída vira sublime! Ideal. A superior, que perdoou o idiota que a chifrou.
Em contrapartida, a mulher traidora vira v%$@a, vagabunda! Mal falada e repudiada. Vira aventura para os outros. O homem traidor vira (para os amigos), exemplo. O granado! Machão! Que para eles é o contrário de c@%!o, mais ou menos!
Assim, concluo que fechemos os olhos e nos consciencializemos que os homens sempre vão nos trair e nunca aceitarão nossas traições. Pelos motivos já expostos.
Felicidade? Não veja, não ouça e não procure motivos, assim, seu mundo será cor-de-rosa, cêntrico, ideal e lindo, como o das amantes nunca será. Porque você vai ter um filho, uma família, um marido e uma expectativa de vida, coisa que elas jamais terão, porque não são escolhidas, são instinto!
Se a mulher trai é vagabunda. Se o homem trai é instinto. É! E é porque é!
Tonight
...porque vale a pena fechar os olhos e senti-la...
...porque a ouço hoje,ontem,e amanhã.
...porque deste lado,mais do que um monitor,cabos,fios,e bytes,está um ser que sente...que ri e que chora, que tem alma e tem pele.
...porque é vida que aqui se sente...
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
domingo, 9 de setembro de 2007
Não meças o amor pelo tempo que dura;
Ontem amei-te mais nessa hora tão ligeira,
Senti maior prazer, gozei maior ventura,
Do que se ao pé de ti passasse a vida inteira.
Efémera recém-nascida à madrugada,
E que ao cair do sol, nessa hora de poesia,
Deixou pender no chão a fonte desfolhada.
Nestas vagas regiões duma paixão nascente.
Sigamos cada um caminhos separados;
Com uma hora de amor a alma é já contente.
sábado, 8 de setembro de 2007
De facto não se vê nenhum tipo de mulher nem de homem, mas apenas tipos de acontecimentos. Aquilo de que se fala, refere-se ao tipo real, isto é à essência. Se as pessoas pudessem viver na sua essência, um tipo de homem, encontraria sempre o tipo de mulher que lhe corresponde e nunca haveria falsa conjunção de tipos.
Mas as pessoas vivem com a sua personalidade, que têm os seus próprios interesses, os seus próprios gostos. Estes nada têm em comum com os interesses e gostos da essência. A personalidade em tal caso, é o resultado do mau trabalho dos centros. Por essa razão pode-se não gostar do que a essência gosta, e gostar precisamente do que a essência não gosta. É aqui que começa o conflito entre essência e personalidade. A essência sabe o que quer, mas não pode explicar. A personalidade não quer nem mesmo ouvi-la e não leva em nenhuma conta os seus desejos. Tem os seus próprios desejos e age ao seu modo. Mas ai termina o seu poder.
Depois de um modo ou de outro, as duas essências, a do homem e a da mulher que vivem juntas, passam por exemplo a odiar-se. Nesse domínio, não há comédia possível; de qualquer modo é a essência, o tipo, que finalmente predomina e decide.